HISTÓRIAS DE VIDA - O MEU PAI BATIA NA MINHA MÃE

Hoje trago-vos mais uma "História de Vida" de uma "Maria", desta vez uma adolescente que resolveu abrir o coração magoado para nos falar sobre violência doméstica, contando a forma como a sente enquanto filha.

É um relato sentido que me foi passado por escrito, numa linguagem própria de miúda sofrida, que entende que nem todas as relações são saudáveis e cuja experiência lhe ofereceu sentimentos de insegurança e desconfiança perante o futuro amoroso.

Alterei algumas palavras e corrigi o texto, dando-lhe um pouquinho do meu jeito, mas a essência está tal e qual como me chegou às mãos.


O MEU PAI BATIA NA MINHA MÃE


Sou a Maria e tenho 14 anos. 

Vai fazer 12 anos que os meus pais se separaram. Eles estiveram juntos durante 10 anos e acho que posso dizer que não saiu nada de bom desse relacionamento.

A minha mãe ficou grávida do meu irmão quando era ainda muito nova.

O meu pai era uma besta que a traía, chegava bêbado a casa e, como se isso não chegasse, ainda lhe batia. E não o fazia quando ela podia defender-se, mas quando tinha os filhos ao colo.

Depois do meu irmão e antes de eu nascer, a minha mãe perdeu um bebé e o meu pai não estava lá para a ajudar. Tinha saido de casa para beber e procurar a companhia de prostitutas e quem a ajudou foi o meu irmão, que na altura tinha 4 anos. 

Não tenho muitas memórias de quando os meus pais viviam juntos, porque eu era muito nova quando se separaram, mas lembro-me perfeitamente do dia da separação. Eu estava a brincar com o meu irmão no quintal e vi o meu pai a bater na minha mãe e a puxar-lhe os cabelos. A minha mãe fugiu de casa connosco, apenas com a roupa que tínhamos no corpo, pois ele não a deixou ir buscar as nossas coisas. Ficámos a viver sozinhos com ela e ele nunca pagou uma pensão!

Mas isso nem foi o pior que aconteceu! Como é óbvio, eu não sei de tudo, mas aos poucos tenho feito algumas descobertas.

Descobri que, no dia em que eu nasci, que foi no início do mês e ela tinha acabado de receber o ordenado, o meu pai foi gastar todo o dinheiro da minha mãe em álcool, no café. Quando saímos do hospital, a minha mãe não tinha dinheiro para me comprar fraldas e comida... 

Recentemente descobri também que, em tempos, a minha avó foi amante do meu pai. Posso dizer que isto nunca me passaria pela cabeça, pois atualmente ela não quer que estejamos com ele.

Quando tinha 6 anos, eu e o meu irmão passámos a ficar uma semana em casa da minha mãe e noutra em casa do meu pai. Nessa altura, com a ajuda da minha avó, ele lutou para ficar com a nossa guarda. Garças a Deus, não conseguiu! Eu tinha medo de estar em casa dele e sei que, se tivesse lá ficado, não teria nem metade do que tenho hoje.

Apesar de tudo, ele é o meu pai e eu não tenho outro! Por muitas coisas más que ele tenha feito, vou continuar a amá-lo. Mas, se tivesse de escolher entre ele ir preso por violência doméstica e a vida da minha mãe, não pensaria 2 vezes antes de o denunciar.

Da mesma maneira que quem ama não trai, quem ama não agride. Amor não inclui traição ou agressão, seja física ou psicológica.



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