«FELICIDADE», DE JOÃO TORDO

Faz hoje uma semana que terminei a leitura do livro "Felicidade" de João Tordo. Fi-lo em boa companhia, dentro do desafio "Leitura Conjunta" de janeiro, do blogue "Manta de Histórias". É sempre muito agradável fazê-lo, pois vamos partilhando diariamente as nossas opiniões e acabamos por nos entusiasmar bastante.

Foi a primeira vez que li uma obra de João Tordo e fiquei completamente fascinada com a sua escrita. Tenho mesmo de começar por dizer isto pois foi, sem dúvida, o ponto mais forte desta leitura e o que mais me prendeu do início ao fim. 

A escrita de João Tordo é cativante, inteligente e muito visual. As suas descrições de pessoas, lugares, situações e emoções são praticamente imagens à frente dos nossos olhos. Conseguimos facilmente sentir que conhecemos as personagens, que já estivemos com elas nos locais por onde passaram na história. Apesar de pormenorizadas, não são fatigantes e tornam-se essenciais para embelezar o enredo, dando-lhe cor e movimento.

Também gostei da história do livro, apesar de a considerar muito melodramática e depressiva. Não é uma história que nos alegre, apesar de ter imensos momentos de bom humor que surgem como bombons no meio da tragédia. Aliás, logo no início somos prevenidos de que teremos uma história com forte vertente dramática, uma vez que começamos com o protagonista junto à campa das trigémeas, que são as personagens centrais de todo o enredo. Apesar das primeiras páginas revelarem logo alguns factos da história, estão escritas de forma tão cativante que me deixaram com muita curiosidade face ao que iria encontrar daí para a frente.

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Gostei bastante do modo como o livro está estruturado, encadeando inteligentemente saltos no tempo, que nos levam a viajar entre diferentes fases da vida dos protagonistas, sem nos deixar perder a contextualização e tendo sempre bons elementos que nos conduzem nessa viagem. 

Adorei o enquadramento histórico patente do início ao fim da história, com especial enfoque na vida dos portugueses durante Guerra do Ultramar e no pré e pós Revolução do 25 de Abril de 1974. São feitas imensas referências à música, ao cinema, ao vestuário, à decoração, aos produtos e às marcas daquela época, bem a diferentes espaços físicos da cidade de Lisboa, o que nos transporta facilmente para as décadas de 60-90 ajudando a vivenciar a história.

Confesso que, nos primeiros capítulos, senti alguma dificuldade em me habituar à forma como são escritos os diálogos na história, mas aos poucos fui ganhando familiaridade com esta ela e deixou de ser um obstáculo à leitura fluida. 

Em relação às personagens, comecei por sentir muita empatia pelo protagonista, a qual se transformou em alguma ansiedade, tristeza e toxicidade. Por diversas vezes me apeteceu encontrar-me com ele pessoalmente e dar-lhe uns abanões para que reagisse e desse a volta à vida. Das trigémeas, criei simpatia e solidariedade para com Esperança, que senti ser boa pessoa e que desejei que fosse muito amada e ajudada a ultrapassar as tragédias da vida. Acho que bem merecia!

De uma forma geral, a história levou-me a pensar que, apesar da vida muitas vezes se mostrar negra, estamos sempre a tempo de dar-lhe a volta e procurar a felicidade.


DESAFIOS 2021:

Desafio Tudo Sob Linhas - categoria "Livro publicado em 2020"

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