PROCURANDO PRATA NOS MEUS CABELOS

A última vez que pintei o cabelo foi no dia da Gala de Finalistas dos meus primeiros alunos da Moita, a 4 de maio deste ano. Faz amanhã precisamente 6 meses. Lembro-me de sentir que não conseguiria aparecer no evento sem o fazer, que seria uma vergonha surgir de cabelo por pintar, já com alguns centímetros de brancos. Estive para não ir, mas lá comprei a tinta numa loja de produtos naturais, como vinha a fazer há mais de um ano, e a minha filhota pintou e tratou-me do cabelo. Foi a última vez que pintei e foi a última vez que permiti que um preconceito da sociedade me colocasse perante a hipótese de não participar num evento tão importante.

Não sei ao certo em que momento passei a dar mais valor à minha opinião do que à da sociedade sobre a cor do meu cabelo, nem sei se realmente o fazia ou se apenas também não gostava de me ver de cabelo grisalho. Acho que me habituei a ver-me de cabeleira colorida, umas vezes mais viva e outras mais discreta, e a detestar o contraste quando as "raízes" começavam a aparecer.
Na verdade, acho que algo aconteceu quando passei a deixar de considerá-los "raízes", para aceitar como uma benção os fios de cabelo que foram aparecendo, pois, na verdade, são cabelo novo que nasce e cresce, o que, tendo em conta o problema capilar que me tem acompanhado, só tenho a agradecer que continue a acontecer. Mas isso é outra história (ou parte da mesma, para outro post!).

Há 6 anos atrás, já tinha feito uma tentativa de deixar de pintar. Usava o cabelo curtinho e parecia que ia ser fácil a transição. Ainda aguentei uns bons meses. Estava numa fase muito díficil de autoaceitação (ou melhor, autorrejeição), por isso não me lembro se deixar de pintar foi uma opção ou uma manifestação de desleixo e de desinteresse por mim mesma. Sei que, quando ganhei força para segurar a vida nas mãos e fazer algo por mim, para me sentir bem comigo mesma, voltei a pintar o cabelo, como parte de um plano que incluiu também perder peso e ganhar vitalidade física.
Hoje não acredito que tenha sido um fator assim tão importante, mas acho que ajudou a ganhar a coragem de procurar autoconfiança e a deixar de estar à espera que os outros gostassem do que viam e me levassem a gostar de mim.

De momento, encontro-me numa fase diferente (da vida e da maturidade) e não é qualquer pormenor que me derruba facilmente. Talvez tenham sido os 40 que me fortaleceram, trazendo a ideia convicta que a atual metade da vida não é para desperdiçar com maus pensamentos, recaídas, pessoas que não interessam, sacrifícios por não saber dizer "não", desvalorizações, queixas, justificações... Chega de tudo isto. Chega de dependências emocionais... E a tinta era uma dependência... E quero (e vou) expulsá-la da minha vida.

Para ser sincera, quando tomei esta decisão, assim que os primeiros branquinhos apareceram depois da gala, não tinha a certeza de que iria conseguir. Mantive-me firme, mas os primeiros comentários sobre "ter de pintar" para não parecer mais velha ou desleixada ainda me baloiçaram um pouco. Fizeram-me repensar na decisão, principalmente os dos meus filhos adolescentes. Não queria que tivessem "vergonha" da mãe... O homem também acha piada à ideia, mas não comenta nem se opõe. (Não é que o permitisse!) Baloicei, mas segurei-me firme e assim espero manter-me.

Comecei a procurar imagens de cortes de cabelo grisalho que pudessem ficar-me bem. Vi alguns que me ajudaram a manter a decisão, mas percebi que tenho de o ir descobrindo à medida que a cor verdadeira vai aparecendo, para que, junto com a cor, o corte seja parte da minha identidade.
Numa dessas pesquisas, conheci um grupo de mulheres como eu, que procura a liberdade de não pintar o cabelo e aprecia a sua autenticidade. "Mulheres de Prata" são elas, somos nós. Aderi e gosto de estar por lá, de fazer parte daquelas guerreiras independentes, que olham por si e se aceitam naturalmente. Têm sido uma ajuda, uma inspiração, uma companhia.

Quero muito conhecer a verdadeira cor do meu cabelo! Quero vê-lo solto e livre, natural e autêntico. Quero abraçar a naturalidade da vida, do corpo, da mente. Quero ser eu própria sem precisar de disfarces nem de esconderijos. Não quero ser igual a ninguém, nem procuro comparações. Quero ser espontânea, real e verdadeira comigo mesmo. Agradar-me e mimar-me com o que considero realmente importante. Crescer por dentro, deixar sair a luz que sei que me preenche. Ser colorida nas ações e nas palavras, ser arco-íris na vida de quem amo, estando lá por inteiro quando a chuva dos dias difíceis teimar em aparecer. Quero amar e ser amada. Quero amar-me. Preciso de pintar o cabelo para isso? Prefiro que me façam uma massagem!

junho de 2019

julho de 2019

agosto de 2019

setembro de 2019

outubro de 2019

Comentários

  1. O importante é sentir-se bem consigo. O que os outros pensam ou opinam sobre a nossa aparência é pouco importante. Beijinhos

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Booking.com