UM FADO DE INTERVENÇÃO

Gosto de fado...
Faz-me lembrar a minha avó.
Desde sempre me habituei a ouvi-lo, mais triste ou mais popular, em vozes doces ou roucas, na solidão ou à desgarrada. Aprendi a gostar mais de uns do que de outros e a preferir os que a minha avó cantava. Um deles nunca mais o ouvi... nem o descobri, apesar das pesquisas na internet. (Um dia vou aprender a cantá-lo só para ela!) Lembro-me dos discos de vinil que ouvia em sua casa, todos acompanhados pela sua voz, e de preferir (como ela) os da Cidália Moreira. (Guardo comigo um muito especial.) Jamais esquecei tê-la visto em palco aqui em Palmela, era eu miúda pequena, e do orgulho que senti ao ver os meus avós em palco, inesperadamente, a cantar com ela.

Gosto de músicas de intervenção... admiro-as e orgulho-me de quem as escreveu quando o regime as censurava. (Essas sim, são verdadeiras!)
Também me fazem lembrar a minha avó, tanto quanto o meu avô. Os dois eram lutadores do bem, preocupados e ativos perante a dor dos outros, perante as injustiças, a pobreza, a fome, o regime que calava e reprimia. Os dois fizeram a diferença na sua cidade e ajudaram muitas famílias a erguer-se. Deram corpo e voz ao 25 de abril, concretizando com ele o que de melhor teve a revolução e as valiosas mudanças que com ela chegaram, imortalizando em tantos corações o verdadeiro valor da liberdade. Orgulho-me do que fizeram e da forma como pensavam. (Tenho pena de nunca lhes ter dito isto pessoalmente... mágoa, mesmo!)

Como não aceder, pois, a conhecer novos fados de intervenção numa nova voz da música portuguesa? O evento caiu-me no colo umas curtas três horas antes de acontecer, como se não pudesse dizer-lhe que não.
E fui.
E gostei.
E passei um bom bocado ouvindo, sentindo, gostando. Passei um bom bocado no silêncio de uns olhos fechados, num reviver de tempos passados (mas sempre presentes), nas vozes das gentes e das guitarras que ali exprimiam sentimentos em sons. (Como gosto também de ouvir o dedilhar pelas cordas...)

A fadista? Helena Sarmento.
Os guitarristas? Samuel Cabral (guitarra portuguesa), André Teixeira (viola) e Sérgio Marques (baixo)
O som? De apresentação do seu terceiro álbum «Lonjura», de temas dos primeiros dois, de outros mais conhecidos e adaptados, daquelas músicas que pretendiam (e conseguiram!) mudar mentalidades para mudar o país.



Comentários

  1. Lindo, princesa! Obrigada a esta homenagem aos avós, fizeste a mãe chorar de tantas saudades deles! Nem imaginas o que me custa ouvir cantar o fado mal, quando os meus ouvidos foram habituados a ouvir bem cantado! Te amo.

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    1. Obrigada pelo comentário, minha mãe linda. São tão importantes para mim as tuas palavras sobre o que escrevo!!! Por mais que, ao reler, pense e queira acreditar que as palavras sairam bem, falta-me sentir que chegaram a alguém. Sabes como sou! Amo-te

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