NUM FINAL DE TARDE ESCURA

Ontem saí da escola com uma sensação estranha, de quietudo, leveza...
Passavam 2h30 do toque de saída quando deixei a minha sala, depois de pôr tudo em ordem, neste final de uma semana trabalhosa e dura.
A escola estava vazia de crianças, num raro ambiente de silêncio quando por lá habito. Estava escuro na rua, graças à noite no final da tarde que o outono já nos trouxe.
Eu estava sem vontade de ir para casa. Iria encontrá-la vazia, sem ninguém à minha espera. Faria eco, estaria fria e simplesmente não me apetecia.
Caminhei até ao carro e descobri que o que queria mesmo era tirar um tempo para mim. (Não disse que a sensação me soava estranha?)
E foi o que fiz: brindar-me por esta semana, por ter dado a volta por cima, vinda (em certos momentos) bem lá do fundo... se bem que nem deveria precisar de motivo para me mimar!
Vim em sossego no carro, ouvindo música brasileira tranquila, desfrutando da capacidade de deixar a cabeça esvaziar.
Passei perto de casa, mas segui em frente, deixando que o destino me levasse até algum café ou pastelaria calmo, onde pudesse ganhar aqueles pequenos prazeres da vida tantas vezes esquecidos: um leite com café bem quentinho, um bolo folhado (e com creme!) e um bom livro.
Coisinhas pequenas, coisinhas minhas, coisinhas que dispenso sempre em troca das coisas grandes, obrigatórias, rotineiras e que não me dão prazer algum. (Sim, as que iria logo fazer assim que chegasse a casa!)
Sem ninguém à minha espera, para além de mim mesma.
É que a vida corre e eu corro com ela, todo o dia, a toda a hora... e esqueço-me de mim, de estar comigo.
E soube-me a Natal, a festa e comemoração. Soube-me a gargalhadas (que a maluca da personagem do livro está numa fase desvairada!).
E deixou-me a alma mais espaçosa, mais limpa e pura.