NOVOS AUTORES #11 - MIGUEL GIZZAS

Não é novidade alguma que, desde o seu primeiro livro, fiquei completamente rendida à escrita e à música de Miguel Gizzas. Gosto da sua forma de escrever, do tipo de melodia que compõe, dos sentimentos que coloca nas suas palavras escritas e cantadas.

"Até que o Mar acalme" e "O Dia em que o Mar voltou" são duas obras que me orgulho de ter adquirido e cujas músicas me acompanham diversas vezes nas viagens diárias.

Além disso, orgulho-me também de já ter estado pessoalmente com este autor, que se dirige aos seus fãs sempre de forma simpática e cordeal e de estabelecer contacto com ela graças a este meu cantinho na internet.

Bem, por todas estas razões, decidi desafiar Miguel Gizzas para responder a algumas questões que me foram surgindo enquanto ia lendo o seu segundo livro. Ele aceitou, respondeu pronta e rapidamente e trago-vos o resultado deste desafio.

1- O que fez despertar em si a vontade de escrever um livro?
Em primeiro lugar, as histórias que compunham o primeiro álbum. Senti que davam para mais do que apenas música. Ao assistir ao "Mamma Mia", com a história construída à volta das músicas, pensei em fazer algo do género. Falei com o Ricardo Carriço, pedindo-lhe para encenar este trabalho, que me disse: “Ok. Escreve o livro primeiro”. A assim fiz.

2- A ação de “O Dia em que o Mar voltou” decorre em 2024. Porque escolheu enquadrá-la num futuro próximo?
Porque é possível de acontecer num futuro próximo. Estamos em cima de uma falha tectónica, com acidentes sismológicos de intensidades altas a terem acontecido ciclicamente de duzentos em duzentos anos. O último foi há mais de duzentos anos. Assim sendo…

3- Neste livro, Lisboa surge descrita de forma muito pormenorizada. Fez parte do trabalho no local, pesquisou ou conhece bem a cidade?
Vivi no coração de Lisboa durante 26 anos. E mesmo vivendo em Cascais, vou lá sempre. Assim mesmo, e apesar de amar a minha cidade, foi preciso pesquisar. É estranho como passamos tão ao lado de tantos pormenores da cidade, mesmo quando a vivemos todos os dias.

4- Ambos os livros começam com histórias aparentemente isoladas, que depois se vão cruzando. Porque organizou o enredo desta forma?
Porque tinha bastantes personagens. Intrincam-se uns nos outros a meio da história, mas senti que era importante apresentá-los de forma gradual.


5- Como se preparou para descrever tão bem o impacto de um terramoto e de um tsunami na cidade de Lisboa?
Essa foi a grande dificuldade desta obra. Documentar-me, discutir possibilidades e impossibilidades. Apesar de ter lido dezenas de livros e trabalhos, foi a preciosa ajuda dos Professores Mário Lopes e Rui Ferreira que desbloqueou algumas dúvidas importantes e que permitiu que a história fluísse de forma imaginada e fantasiada, sem nunca perder o realismo.

6- Com que personagem deste livro mais se identifica?
Cada personagem tem sempre algo de nós. Talvez o Vicente e a Júlia estejam mais próximos do que sou.

7- Lourenço, uma das personagens, tem um discurso muito peculiar. Como estruturou as suas falas?
Foi outro trabalho difícil. De facto, gosto de personagens diferentes. Queria que, apesar da dificuldade de entendimento dos termos usados pelo Lourenço, ninguém precisasse realmente de parar para ir ao dicionário. Que apesar da palavra poder não ser entendível, o sentido da frase não se perdesse.
A base deste personagem é um Professor que tive no MBA, de quem, devo dizer, gostava muito. Falava de forma extremamente complexa e cuidada, mas nunca deixava de o entender. E senti nesse facto uma qualidade que tentei replicar. Dei por mim a buscar termos estranhos e depois procurar encaixá-los no texto.

8- De qual dos livros e bandas sonoras gosta mais? Porquê?
São diferentes. O primeiro livro é muito mais íntimo, reflete muito mais formas de ultrapassar dificuldades na vida, fala da felicidade dentro da dureza. O segundo, pertencendo ao universo fantástico, acaba por ser mais descritivo, factual. Ambos serviram um propósito de crescimento. Posso responder dizendo que neste momento o livro que mais gosto é o novo romance que estou a escrever.

9- Quando criou as suas obras, o que escreveu primeiro: a história ou a letra das músicas? Explique-nos a forma como articula a criação do livro e do cd.
No primeiro livro já tinha como base o primeiro CD, produzido anos antes. Já no segundo fui construindo à medida que cada uma das artes me requisitava, sem me procurar nenhuma, antes deixando que me procurassem elas.

10- Como descreve o público-alvo dos seus livros e das suas músicas?
Na minha outra vida (de economista e gestor) tenho que conviver com públicos-alvo a cada dia. A minha arte é o meu refúgio. Por isso, cada vez mais procuro escrever para me sentir bem. Só assim penso que a minha obra poderá ter algo de assinalável, porque virá de dentro de mim, do meu coração, dos meus olhos fechados, entregues à alma. Desta forma, não acho que tenha um público-alvo. O público que se sentir tocado com o meu trabalho será o meu público-alvo.

11- Considera-se um escritor-músico ou um músico-escritor?
Não me defino de nenhuma das formas. Considero-me um criador, que aceita o momento em que cada arte me convoca.

12- Costuma convidar alguns dos seus amigos músicos a participar nos seus concertos. Com quem gostaria de cantar num espaço como o Campo Pequeno ou o Meo Arena?
Tantos… Tenho referências várias. Tom Waits e Bob Dylan, seguramente.

13- Se pudesse escolher um cantor estrangeiro para com ele cantar em dueto, quem escolheria?
Acho que respondi acima.

14- As pessoas interpelam-no na rua? Como lida com a fama?
Felizmente interpelam-me pouco. Seguramente por não ter a notoriedade de outros artistas, talvez também porque as pessoas começam a saber reservar-se um pouco mais. Nos casos em que acontece, sinto-me meio envergonhado. Na verdade, faço um trabalho e tento fazê-lo bem, como creio que muitas das pessoas que me interpelam fazem. Procuro explicar-lhes que talvez devesse ser eu a pedir-lhes um autógrafo.


Muito Obrigada, Miguel Gizzas pela simpatia com que aceitaste o desafio
e pelo que deste de ti a estas respostas.

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