HISTÓRIAS DE VIDA: "CONTRAÍ HIV E A MINHA VIDA MUDOU" - PARTE I

Já aqui tenho dito que este meu refúgio na internet me tem dado a possibilidade de conhecer pessoas maravilhosas, com histórias de vida incríveis e que, felizmente, têm entrado para o meu círculo de amizades e nele perdurado.
Umas conhecidas, outras a merecerem sê-lo, outras anónimas. Todas elas com algo em comum: uma forma de ser fantástica!
Quando olho para trás, vejo que, nestes quatro anos de blogue, tenho crescido bastante como pessoa e, em parte, sei que isto se deve aos horizontes que estas pessoas me foram abrindo.
Obrigada a todas!!!
Por isso mesmo, porque valorizo cada história e cada ser humano como único e especial, vou hoje abrir um espaço onde vos contarei algumas dessas histórias de vida, narradas pelo próprio protagonista, que aqui aparecerá anónimo mas que tem um espaço privilegiado no meu coração.
Serão Marias e Maneis cujas histórias valem mesmo a pena conhecer.



CONTRAÍ HIV E A MINHA VIDA MUDOU
PARTE I

Conhecia de vista um rapaz militar lá do meu quartel. Era charmoso, simpático e com uns olhos muito bonitos, apesar de ter algum peso a mais. Como tinha vergonha de falar com ele pessoalmente, começámos a falar pela internet e, uns tempos depois, combinamos um café.
Era junho, por altura dos Santos Populares. Estava uma linda noite de Verão. E foi nessa noite que tudo mudou para resto da minha vida...
Ele levou-me a um café com vista para o rio. Conversámos, rimos e logo ali criámos empatia e atração.
Na hora de me levar a casa, a atração falou mais alto e ficámos no seu carro ao beijos. Lamentámos o facto dele ter de ir a uma festa de anos, pelo que combinámos que apenas estaria lá um bocado e que voltaria para passar mais um tempo comigo.
Não sei bem que horas eram, mas umas horas depois, ligou-me à porta do meu prédio e eu deixei-o subir. Bem... fomos para o quarto e estivemos na cama aos beijos e com caricias. Eu estava no inicio da menstruação e não queria avançar, mas, ao fim de tanto clima, cedi. E cedi tão mal! Não usámos proteção, apesar de a ter ali mesmo ao lado, na mesinha de cabeceira. Nunca pensei que um militar como eu não estivesse completamente são. E foi o suficiente para ficar infetada...
Aliado ao facto de, nós mulheres, termos uma área maior e mais exposta a infeção em todo o utero, que tem sempre algumas micro-fissuras, a menstruação foi mais um fator que aumentou as minhas probabilidades de ser infetada e uma vez bastou para estragar a minha vida...

Não passaram muitos dias até eu começar a ficar muito doente. Umas duas semanas depois, comecei com febre de 38ºC, a vomitar, com diarreia e com uma grande e fenomenal infeção na garganta com pus e tudo, coisa que nunca me tinha acontecido antes...
Fui ao médico e diagnosticaram-me uma amigdalite. 
Mas fui ficando cada vez pior. Vomitava por tudo e por nada, não conseguia comer nem beber, e a febre não cedia com paracetamol.
Voltei às urgências e fizeram novo diagnóstico: gastroenterite.
Passaram horas, dias... E fui piorando. Passei a semana inteira a ir ao hospital e os diagnósticos foram variando. Estive a soro e deram-me medicação intravenosa para febre na veia. Isto aliviava um pouco e era mandada para casa.
No último dia que fui às urgências já não tinha forças, estava muito magra, vomitava sangue e não aguentava mais. Finalmente fui internada... Nesse dia fui atendida na ala onde estão médicos estagiários internos e fui vista por dois médicos novatos e queridos. Disseram que me iriam fazer uma análise que iria custar muito, porque iriam tirar sangue de uma artéria virilha para fazerem uns exames mais completos, onde poderiam detetar doenças como o HIV, as hepatites e outras virais. Custou mesmo imenso fazer este exame.
Entretanto, fiquei num quarto numa enfermaria com ala infetocontagiosa e, por ironia do destino, não havia vagas nos quartos normais e fui colocada no de isolamento, para ver se descansava mais e melhor e esperar vagar outro lugar noutro lugar.
Foi na manhã do dia 3 de Julho que um médico que nunca tinha visto na vida entra no meu quarto e diz:
- Tenho uma má noticia para lhe dar. Você tem HIV e digo-lhe que não está infetada há muito tempo. A infeção tem no máximo 3 semanas.
Fiquei incrédula com aquilo e com a forma como me foi dito e apenas balbuciei:
- Mas eu fiz análises há menos de 6 meses e não tinha nada, como posso ter HIV?
Na minha cabeça ficou ainda uma pergunta a ecoar: Como saberá que é recente?
Não tive direito a mais qualquer conversa, para além de um «se tiver duvidas pergunte-me e se não conseguir dormir peça às enfermeiras a medicação que vou prescrever» e saiu porta fora.
Eu fiquei inconsolável, pensando que não era possível, que era engano, que era falso. A forma de me dar a notícia tinha sido horrível e não sabia como era possível saberem há quanto tempo eu estava infetada.
 

CONTINUA...

Comentários

  1. Wow. Fiquei espantada com isto. Realmente é preciso mesmo muito cuidado! Gostava de ler o desenvolvimento... beijinho para a pessoa que esta a partilhar esta história e obrigado por o fazer!

    The-not-so-girlygirl.blogspot.com

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  2. OLá querida!
    Vamos conhecer o resto da história sim!
    A nossa Maria está a dar um exemplo de coragem ao falar da sua história.
    Beijocas

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