UM "ATÉ LOGO" SEMPRE DIFERENTE

Todos os dias, por volta das 8h15, quando vou levar os miúdos à escola, me apercebo claramente de que estão cada dia mais crescidos.
Não é que não o veja durante o resto do dia, mas àquela hora, em poucos segundos, eles mostram que já não são bebés, nem crianças... que entraram numa outra fase, que têm, cada vez mais, vontade de ser independentes e de ter em mim um porto seguro que procuram quando precisam, podendo voar em segurança.

Quando eram bebés e ficavam em casa da minha mãe para eu e o pai irmos trabalhar, os filhotes pulavam para o colo dela assim que a avó vinha à porta. Largando os braços (ou a mão) desta mãe, saudavam a avó Mila com carinho e entusiasmo, já à espera de um dia de brincadeira e mimos. Eu pedia o "meu beijo" de despedida e recebia-o: lambuzado, curto ou demorado, com abraço apertado ou acelerado, com meiguice ou reguilice, mas sentido e a acalmar-me, como dizendo "podes ir que ficamos muito bem!".
No início de cada semana ou período letivo, depois das férias ou de uma doença própria da idade, custava mais a mãe e filho(a), mas apenas os minutos de despedida se prolongavam e o aperto no peito (da mãe) teimava em fazer-se sentir.


Quando foram para a escolinha, ele com 3 anos e ela com 2, custava bem mais a despedida e o "até logo". Ele, que nunca foi de mostrar sentimentos em público, despedia-se com um beijo e um grande abraço e seguia para brincadeiras. Notava-se aquele olhar brilhante e o peito muito cheio de ar, mas a vontade de brincar e os pais terem ido embora ajudava a ultrapassar e estimulava as reguilices. Ela, na altura mais mimocas e sensível, agarrava-se a nós e chorava. Após muitos beijinhos e abraços trocados, tinha de ficar... mas ficava a choramingar... e chorava ao almoço... e chorava na ginástica... e eu, mãe-galinha, ligava a perguntar como estava e ficava de coração apertadinho, do tamanho de uma ervilha. E assim foram as primeiras semanas dos 2. O choro e os apertos desapareceram com o tempo, os beijos e abraços trocados mantiveram-se.


Já com 5 anos (e ela com 4), no pré-escolar público, na mesma escola que a mãe, foi fácil a integração e começou a independência. Vestia-lhes a bata na sala dos cabides, trocávamos um beijo grande e um abraço apertado e eles ficavam a brincar.

No 1.º Ciclo, tirando os primeiros dias, que são sempre diferentes, os dois se despediam com um grande beijo. Ia levá-los à porta nos primeiros 3 anos, dávamos o beijo e o abraço da praxe, trocávamos um "amo-te" e um "e eu a ti" e íamos à nossa vida. Eles corriam para o recreio e eu corria para o carro (e acelerava para a escola). Às vezes trocávamos um novo "amo-te" com mímica inventada pelos 4 da casa. No último ano dela, já sozinha naquela escola, parava o carro junto à rede e ela seguia sozinha e ficava do lado de lá a fazer-me adeus e à espera de ver o carro partir. Mandávamos beijinhos e trocávamos aquele gesto de circulo à volta do coração.


Agora, que ambos estão na "escola dos crescidos", a despedida dura uns segundos. À chegada à escola, paro o carro a uns metros (de segurança!) e ambos saem dizendo um "até logo" tão rápido que quando olho já atravessaram a estrada. Nem um beijo, nem um gesto de "amo-te", muito menos um abraço. Que vergonha seria agora que a vida social é mais importante para eles! A mãe é porreira e amiga, mas os beijo trocam-se em casa. Na rua, acena-se e mostra-se aos amigos que a mãe alinha, que a mãe é fixe.
À saída, espero por eles no beco, a uns bons metros de distância do portão da escola, para puderem sair "descansado" e "livres" para a socialização. Não há mãos dadas, nem beijos, mas, assim que entram no carro, falam sobre tudo o que quiserem (e ainda é muita coisa!) e sobre como correu o dia. E interessam-se pelo meu dia... E combinam coisas comigo... E partilham desejos e vontades...
A adolescência aproxima-se a passos largos nos 12 anos (dele) e nos 10 (dela).

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