NOVOS AUTORES #07 - CARINA ROSA

Já nem sei muito bem quando nem como descobri a autora Carina Rosa, mas já li dois dos seus livros e adoro a forma como se exprime da escrita e a autenticidade que dá às suas histórias.
Comecei com "O Intruso", em outubro de 2014, um livro em suporte de papel, editado pela Chiado Editora. No mês passado li "A sombra de um passado", em formato digital da Coolbooks, que também adorei.

Para além destas 2 obras que conheço, Carina Rosa também já publicou "As gotas de um beijo" e escreve num blog pessoal, onde nos oferece o seu talento em opiniões de outras obras e nos fala sobre a sua vida de escritora.

E como tenho feito com todos os novos autores que descubro e de quem gosto, também quis fazer-lhe algumas perguntinhas, deixando a curiosidade voar e aterrar nas suas palavras sentidas.

Vamos ler as respostas da Carina?


Foto de Rui Canelas


Quando e como descobriu que vivia em si uma escritora?

Não sei ao certo. Penso que é algo que sempre viveu dentro de mim, mas que estava adormecido até ter escrito «O intruso». Sempre gostei de escrever. Uma professora rabiscou-me uma vez, num caderno: “Sempre que quiseres escrever, escreve”. No entanto, não associava essa paixão à literatura. Tirei Ciências da Comunicação porque gostava de escrever e trabalhei num jornal impresso, porque gostava de escrever. Dizia à minha mãe que queria ser escritora, mas nem sabia o que isso era. Mais tarde, descobri que a minha paixão por criar algo a partir de palavras desenhadas numa folha em branco, aliada ao meu gosto pela leitura, tinha de desencadear alguma coisa. A minha cabeça não parava, com a minha imaginação sempre em acção, e tive de lhe dar aquilo que me pedia.

Desde que editou o seu primeiro livro, em 2012, que não mais parou. O que a motiva a continuar a escrever?


Já tenho parado quando não me sinto em condições de escrever. Isso acontece quando tenho algum problema que não consigo resolver e que me tira a paz de espírito que a escrita exige. É um processo mais complicado do que se pensa e que requer do autor tempo, paciência e essa paz de que falo. Mas é verdade que nunca páro por muito tempo. Quando algum dos meus problemas não tem solução, é a escrita que volta a levantar-me e a pôr-me de pé. Por vezes é ela que tem de recordar-me de que ainda existo, de que sou capaz de controlar alguma coisa, de fazer algo com as minhas mãos e que faça os outros felizes. O que me motiva? Os pensamentos. Quando tenho uma ideia e a acho boa, já não consigo parar. Os pensamentos sucedem-se e não me deixam dormir. As personagens perseguem-me com as suas histórias, falando-me em diálogos, de sítios onde nunca estive. É aí que tenho de passá-las para o papel e de torná-las reais.

Editou 3 livros, todos eles em editoras diferentes. Porquê?

Crescimento e notoriedade. Publiquei primeiro na Chiado Editora, porque não conhecia o mundo e foi a primeira a dar-me uma oportunidade. Depois publiquei na Alfarroba, porque, dentro das pequenas editoras, era a que mais me atraía, pelo seu trabalho com o autor e também com os próprios livros. Embora seja uma pequena editora, gostei muito de publicar com eles e reconheço o seu esforço e paixão pelo meio, no carinho que têm com as suas histórias, dentro da capa e fora dela. Depois, a Coolbooks, uma chancela digital da Porto Editora, porque é o sonho de qualquer autor pequeno. Tentar publicar na PE foi um tiro no escuro e não esperava mesmo acertar no alvo, mas acertei e na altura não hesitei em levar a coisa até ao fim. Nunca me interessou muito publicar em formato digital (em algumas coisas, não sou de modernices), mas procurava crescimento e notoriedade e, de certa forma, acho que o consegui. No entanto, foi um livro pouco lido até agora, tendo passado já quase nove meses da sua publicação, e penso que o facto se prende com o digital e a pouca adesão, ainda, do leitor comum ao formato. Se tiver a oportunidade de publicar um próximo romance em papel, vou lutar por isso. É isso que procuro: tentar crescer, sempre, degrau a degrau.

De qual dos 3 mais gosta e porque razão?

É difícil responder a isso, porque são os três muito diferentes e foram escritos em fases distintas da minha vida, em que eu era outra pessoa. Somos sempre outras pessoas, no passado e no futuro, porque estamos sempre a aprender. Tenho um carinho muito grande pelos três e pelas suas histórias, mas se me perguntar em termos técnicos, de estrutura/enredo, penso que o terceiro, «A Sombra de um Passado», é o melhor, porque eu cresci como escritora e é assim que deve ser. O segundo, «As Gotas de um Beijo», já era melhor do que o primeiro, nesses termos, enquanto «O Intruso» me parece agora algo inacabado, um esboço. No entanto, adoro todas as histórias, de formas diferentes, embora confesse que, se tivesse de publicar «O Intruso» novamente, iria reescrevê-lo todo, de uma ponta à outra, porque, em termos de enredo, está fraco para a pessoa que eu sou hoje. À medida que vamos aprendendo, as histórias ganham mais personagens secundárias, os lugares que frequentam expandem-se, assim como aquilo que fazem e o que dizem. Os diálogos esgotam-se até ao limite e a história fica mais forte, mais pesada, melhor. O próprio autor se torna melhor, mais exigente, mas há um ponto em que as coisas já não dependem apenas de o enredo funcionar, mas sim de gostos e de opiniões.

A Carina tem livros editados em papel e também em formato digital. Quais as principais vantagens e desvantagens de um e outro formato?

Vantagens do papel: Muitas. É um livro físico, ou seja, que existe, e o leitor pode vê-lo nas prateleiras, à venda, cheirá-lo, abri-lo, folheá-lo, senti-lo nas mãos. Um livro físico é um livro bonito e que vale o seu preço. Está visível para compra e pode ficar para sempre numa estante.
Desvantagens: É mais caro que um e-book, pesa e ocupa espaço.

Vantagens do e-book: É mais barato, não pesa, nem ocupa espaço. Chego a ter quarenta livros num e-reader e posso levá-los, ao mesmo tempo, para umas férias, sem que me ocupem espaço ou me pesem, e ainda tenho a vantagem de, depois, poder escolher que história quero ler.
Desvantagens: É uma espécie de ficheiro de computador e, a meu ver, como se não existisse. Não é físico, não consigo senti-lo, não é palpável, as folhas não passam pelas nossas mãos. Não está visível para compra e, portanto, também é mais difícil de ser vendido. Não pode ser colocado numa estante, que é uma coisa tão bonita.

O que é, para si, o amor?

Ui! Que pergunta difícil! Não penso que o amor possa ser definido. O amor é, sei lá, tudo! Não uma relação amorosa com outra pessoa, ou não apenas isso, mas tudo. O acolhimento de um lar, um familiar à nossa espera, o olhar e o sorriso de um amigo, o nosso cão ou gato, um diálogo com aquela pessoa que nos entende e que nos ama, um local de trabalho, uma paixão, uma sensação prazerosa. O amor está em tudo aquilo que nos faz feliz e que define o nosso dia-a-dia na vida.

Tanto em “O intruso” como em “A sombra de um passado” existe um amor antigo a perturbar um novo amor. Como fazer para que isto, na vida real, não aconteça?

Penso que não existe esse evitar de acontecimentos. As coisas acontecem e pronto, o que muda é a nossa forma de lidar com elas. Todos temos antigos amores, alguns que nos marcaram, outros não, mas no final há sempre uma decisão e só espero que, na vida real, essa seja a mais acertada, que nos faça felizes no futuro.

A Carina é uma escritora de romances. Em que medida se considera também uma pessoa romântica?

Não me considero uma pessoa muito romântica, o que pode soar estranho. Em algumas coisas, no amor, sou bastante prática e detesto lamechices, embora goste de romance bem doseado, quanto baste. Acho que reservo todo o meu romantismo para os meus livros, criando, por vezes, personagens masculinos que me irritam e com os quais eu nunca sairia. Parece que tenho uma veia romântica que me esforço por expulsar, porque acabo, muitas vezes, por me apaixonar por esses homens românticos que crio. Só nos livros, claro!


Identifica-se com alguma das personagens femininas dos seus romances? Se sim, com qual/quais e porquê?

Talvez com a Sara: tímida, reservada, receosa de tudo e algo dramática. Tenho muitos medos e inseguranças, embora lute sempre para os afastar. Gosto de me isolar, muitas vezes. Não me considero muito sociável e penso que nisso, sim, sou parecida com ela.

Para além de romances, as suas obras também incluem mistério e suspense. Qual das vertentes gostaria que fosse mais apreciada pelos leitores?

Talvez o mistério. Sem mistério, não há romance. Ou poderá existir, mas algo muito morno e sem sal.

Que principais diferenças encontra na Carina escritora do primeiro livro e a que se encontra atualmente a escrever o quarto?

Todas. A nível de linguagem, modelei as linhas que escrevo para algo mais fluído, menos curto e à “reportagem” de jornal. Mas penso que é no enredo que se notam maiores mudanças. Comecei a fazer planos para aquilo que vou escrever, com personagens, capítulos e lugares muito bem definidos, o que torna tudo mais fácil, mas também mais completo. Não me satisfaço com pouco, estou muito mais exigente e tudo o que faço requer muito esforço da minha parte. Penso que é no grau de exigência daquilo que escrevo que estão as principais diferenças.

Para quando prevê o lançamento do seu quarto livro e o que podemos esperar dele?

Não sei mesmo e isso prende-se com aquilo que referi acima: o meu grau de exigência comigo mesma elevou-se imenso e não quero publicar qualquer coisa sem qualidade. Vai demorar, mas quero que, quando chegar, seja algo muito bom. O que podem os leitores esperar dele? Algo muito diferente: um policial com muito suspense e algumas cenas pesadas, mas também muito amor. 


Obrigada, minha linda Carina, pela simpatia e pela disponibilidade.
Foi TÃO bom conhecer-te melhor!!!

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