Todos os dias chego a casa estafada... mental e fisicamente. E sinto que, apesar de adorar o que faço, não aguentaria mais tempo em sala de aula.
Este ano estou a trabalhar com uma turma de 26 alunos. (Não é estranho. É "apenas" o normal nos dias de hoje!) E são 26 crianças de 5 e 6 anos que estão no 1.ºano... que estão a iniciar as aprendizagens.
São crianças e estão a adaptar-se, o que diz muito... são irrequietas, barulhentas, brincalhonas... e têm de estar concentradas para aprender e consolidar, o que parece contra-natural nos dias (e nos miúdos) de hoje.
Pode parecer, a quem está de fora, que não são muitos e que não "pode" ser assim tão cansativo. Normalmente os pais que vão à sala "cantar os parabéns" aos filhotes no dia mais importante das suas vidas já conseguem perceber como é "duro" e como temos de estar constantemente munidos de paciência, criatividade e versatilidade. E quando não estamos? Não se pense que são os miúdos que sofrem... somos nós, pois ficamos nús, sem instrumentos de trabalho e à mercê dos mais exigentes "clientes" do planeta. Não sei se acontece com todos os meus colegas, que há sempre que tenha a facilidade de passar a outros a responsabilidade, mas eu sinto-me realmente despida e culpada quando não estou, pelo menos, a 90% das minhas capacidades.
Na maioria dos dias, passo o tempo de um lado para o outro na sala para acompanhar o que todos fazem, para ir orientando e apoiando, para corrigir, explicar, segurar uma mão para escrever, para ajudar a ler as sílabas e a formar palavras. Nas voltas que dou, obrigo metade a sentar-se bem na cadeira, não por questões de etiqueta mas porque a postura é muito importante na saúde e nas aprendizagens, arrumo dez mochilas abertas no caminho, apanho quatro ou cinco casacos que volto a mandar pendurar no cabide, guardo dois ou três lápis que ninguém sabe de quem são.
Há momentos em que fico de frente para todos, prevendo uma aula mais expositiva. De forma a ser vista por todos, fico de pé e modero debates, explico um novo conteúdo, peço para falar um de cada vez e esperar com o dedo no ar, leio as perguntas do manual, de uma ficha ou de outra proposta explicando o que têm de fazer, volto a explicar porque dois não perceberam, volto a ler e explicar porque três estavam distraídos e no momento de começar não sabem o que é para fazer... Ouço as suas vivências, dou-lhes espaço para partilharem o que sabem, chamo-os ao quadro, incentivo, aplaudo, encorajo a corrigir, ralho, sorrio, faço olhos de bruxa zangada, imito as vozes das personagens das histórias...
Mas também consigo sentar-me, em alguns (pequenos) pedaços da aula e tenho mesmo de o fazer, não tanto para bem das minhas pernas (apesar delas se queixarem), mas porque há alunos que precisam de mim bem perto deles para avançar e não perder a carruagem das aprendizagens.
E, por incrível que pareça, estes momentos em que me sento junto dos que mais precisam de mim, dos que realmente tornam necessária a minha profissão, são os mais difíceis do dia. Não porque não saiba como os ajudar ou me importe de usar sempre estratégias diferentes, nem porque a posição não é suficientemente confortável, mas porque o mais difícil mesmo é ter tempo e espaço para chegar a todos, principalmente para estar com todos e potencializar as capacidades e competências de cada um.
Se a criatividade e o empenho são muitas vezes as capacidades que me guiam para ajudar o grande grupo a aprender, para andar ao lado dos que aprendem do ar, para encaminhar os que ouvem e sabem, para puxar por quem precisa de melhorar a concetração ou experimentar o dobro das vezes, queria também conseguir usar melhor a paciência e a preserverança para pegar ao colo aqueles que precisam de mais tempo, de mais tentativas, de mais incentivo, de mais confiança, de mais competências básicas...
Não consigo como queria, porque todos os outros me querem também, porque todos precisam de alguma coisa e têm dúvidas, porque uns acabam depressa demais e outros conversam e perturbam o silêncio de que preciso, porque são muitos e todos eles diferentes. E às vezes é necessário dizer "não" ou "agora ninguém vem aqui" e estar só para aquele grupo que não pode ficar para atrás.
O mais díficil em sala de aula é conseguir chegar a todos...
Este ano estou a trabalhar com uma turma de 26 alunos. (Não é estranho. É "apenas" o normal nos dias de hoje!) E são 26 crianças de 5 e 6 anos que estão no 1.ºano... que estão a iniciar as aprendizagens.
São crianças e estão a adaptar-se, o que diz muito... são irrequietas, barulhentas, brincalhonas... e têm de estar concentradas para aprender e consolidar, o que parece contra-natural nos dias (e nos miúdos) de hoje.
Pode parecer, a quem está de fora, que não são muitos e que não "pode" ser assim tão cansativo. Normalmente os pais que vão à sala "cantar os parabéns" aos filhotes no dia mais importante das suas vidas já conseguem perceber como é "duro" e como temos de estar constantemente munidos de paciência, criatividade e versatilidade. E quando não estamos? Não se pense que são os miúdos que sofrem... somos nós, pois ficamos nús, sem instrumentos de trabalho e à mercê dos mais exigentes "clientes" do planeta. Não sei se acontece com todos os meus colegas, que há sempre que tenha a facilidade de passar a outros a responsabilidade, mas eu sinto-me realmente despida e culpada quando não estou, pelo menos, a 90% das minhas capacidades.
Na maioria dos dias, passo o tempo de um lado para o outro na sala para acompanhar o que todos fazem, para ir orientando e apoiando, para corrigir, explicar, segurar uma mão para escrever, para ajudar a ler as sílabas e a formar palavras. Nas voltas que dou, obrigo metade a sentar-se bem na cadeira, não por questões de etiqueta mas porque a postura é muito importante na saúde e nas aprendizagens, arrumo dez mochilas abertas no caminho, apanho quatro ou cinco casacos que volto a mandar pendurar no cabide, guardo dois ou três lápis que ninguém sabe de quem são.
Há momentos em que fico de frente para todos, prevendo uma aula mais expositiva. De forma a ser vista por todos, fico de pé e modero debates, explico um novo conteúdo, peço para falar um de cada vez e esperar com o dedo no ar, leio as perguntas do manual, de uma ficha ou de outra proposta explicando o que têm de fazer, volto a explicar porque dois não perceberam, volto a ler e explicar porque três estavam distraídos e no momento de começar não sabem o que é para fazer... Ouço as suas vivências, dou-lhes espaço para partilharem o que sabem, chamo-os ao quadro, incentivo, aplaudo, encorajo a corrigir, ralho, sorrio, faço olhos de bruxa zangada, imito as vozes das personagens das histórias...
Mas também consigo sentar-me, em alguns (pequenos) pedaços da aula e tenho mesmo de o fazer, não tanto para bem das minhas pernas (apesar delas se queixarem), mas porque há alunos que precisam de mim bem perto deles para avançar e não perder a carruagem das aprendizagens.
E, por incrível que pareça, estes momentos em que me sento junto dos que mais precisam de mim, dos que realmente tornam necessária a minha profissão, são os mais difíceis do dia. Não porque não saiba como os ajudar ou me importe de usar sempre estratégias diferentes, nem porque a posição não é suficientemente confortável, mas porque o mais difícil mesmo é ter tempo e espaço para chegar a todos, principalmente para estar com todos e potencializar as capacidades e competências de cada um.
Se a criatividade e o empenho são muitas vezes as capacidades que me guiam para ajudar o grande grupo a aprender, para andar ao lado dos que aprendem do ar, para encaminhar os que ouvem e sabem, para puxar por quem precisa de melhorar a concetração ou experimentar o dobro das vezes, queria também conseguir usar melhor a paciência e a preserverança para pegar ao colo aqueles que precisam de mais tempo, de mais tentativas, de mais incentivo, de mais confiança, de mais competências básicas...
Não consigo como queria, porque todos os outros me querem também, porque todos precisam de alguma coisa e têm dúvidas, porque uns acabam depressa demais e outros conversam e perturbam o silêncio de que preciso, porque são muitos e todos eles diferentes. E às vezes é necessário dizer "não" ou "agora ninguém vem aqui" e estar só para aquele grupo que não pode ficar para atrás.
O mais díficil em sala de aula é conseguir chegar a todos...
Pois, na sexta-feira quando saí da escola, a minha vontade era não voltar nunca mais. Gosto de ensinar , mas atualmente 90% do meu tempo é passado a "tomar conta" e só 10% a ensinar, pelo menos é o que sinto. E olhe que leciono em turmas do 7º ano e do Secundário! Já tive turmas do 7º com trinta e tal alunos (há uns doze anos atrás) e que até dava gosto estar ali a trabalhar com eles (miúdos educados, brincalhões mas obedientes e cheios de vontade de aprender). Agora? A primeira batalha de cada aula é fazer com que se sentem, tirem o boné, tirem os phones, guardem os telemóveis, abram as mochilas e tirem o material escolar (que a maioria, apesar de ter, não leva para a escola) e depois continua... impedir que risquem as mesas e as paredes, corrigir a linguagem imprópria que fazem questão de usar, lidar com a arrogância de quem sabe que a punição será sempre muito mais leve do que a infração e por aí fora. E, no meio disto tudo, estão aqueles miúdos que sabem ser ALUNOS e com quem dá gosto trabalhar.
ResponderEliminarDe qualquer das formas, sempre achei que as turmas do primeiro ciclo, tão importante na formação inicial do aluno (a nível académico e também a nível de postura em sala de aula), não deveria ter mais do que 10 ou 12 alunos. Infelizmente, poupa-se onde não se deve (Educação e Saúde) e as consequências estão à vista.
Bom domingo!
Acredito que ser professor é das profissões mais exigentes do mundo.
ResponderEliminarAssim, talvez devessemos aprender com Finlândia onde é o curso de maiores médias, de maior grau de dificuldade e onde o acompanhamento do professor é crucial.
Também é das profissões mais bem pagas por lá.
Quem dera que aqui os professores fossem assim escolhidos, talvez o insucesso escolar não fosse tão grande.
Acredito que a culpa não será das crianças, mas de toda a envolvência e educação familiar.
Não há maus alunos, apenas maus professores, já ouvi isto em qualquer lado.
Um assunto controverso, mas é sempre fácil culpar os outros.
Admiro-te pela coragem, mas o mundo é dos audazes e livres de espírito.
Beijinhos e boa semana!