"- Mãe, como é que os pais do D., que tem ASE, conseguem comprar-lhe uma PS4 nova?"
(Simão, 11 anos)
Foi uma das primeiras frases que ouvi o meu filho dizer hoje de manhã e a primeira resposta que me surgiu foi "Não sei, filho!".
Saiu-me... porque às vezes não sei mesmo. Supostamente, quem tem ASE (auxílios económicos) são os alunos que os pais têm mais dificuldades financeiras, por isso têm abono de família de acordo com o baixo escalão do IRS...
Mas ficámos à conversa e concluímos que, às vezes, é mais uma questão de prioridades.
O que compraríamos nós cá em casa com os 400€ que custa a PS4?

- Calças e camisolas... não de marca, mas ao gosto dele
- Uns livros da coleção do Naruto
- Material escolar de reserva até ao final do ano
- Bilhetes de cinema, de teatro, do circo... para 4
- 1 jogo de tabuleiro para jogar em grupo
- Almoçámos no seu restaurante preferido
Ou então, querendo quase que ridicularizar a situação, acrescentaríamos alguns produtos mais supérfluos à lista de supermercado.... durante uns meses.
Esta parte não lhe disse, mas pensei, confesso!
E fica às vezes tão difícil falar deste assunto com os filhos! Não para eles, que desde sempre questionaram o porquê de alguns colegas mostrarem estas contradições económicas, mas porque para nós pais, que temos maiores ordenados mas que deles descontamos 1/3 para o IRS, sem qualquer retorno nem outras fontes de rendimento, também não compreendemos o porquê destas "injustiças". Assim, a questão das prioridades convencem os dois lados, para além de fazerem sentido.
Não me custa nem me inibido de conversar com os meus filhotes sobre estas questões, de responder às suas dúvidas, de dar a minha opinião... mas não o faço mostrando um mundo edílico onde os que têm pouco são ajudados pelo Estado com o dinheiros dos que têm muito... não minto aos meus filhos... sei que não é assim, apesar de supostamente ser.
E a escola pública, onde se encontram tantas crianças de diferentes setores e níveis socio-económicos, onde umas podem (e têm) tudo, outras nada e outras mais ou menos, onde a adolescência traz a comparação das roupas, do que se come no refeitório, do que se pode ou não fazer nos tempos livres, dos materiais que às vezes não se compram porque os pais não têm dinheiro... tem esta questão das dificuldades e das prioridades sempre exposta nas conversas e nas atitudes... e há sempre assuntos sociais a ser falados em casa e há objetividade, mas também há debate e reflexão. Porque acredito que as conversas formam cidadãos conscientes.
"- Perguntei por perguntar, mãe. Não queria que gastasses tanto dinheiro numa PS4!"
Eu sei! E usa a ironia algumas vezes no tom que imprime às questões que lança.
Como sei e percebi que também ele trocaria o tal brinquedo por todas aquelas prioridades de que estivemos a falar, mesmo as da lista de supermercado.
Mas também gostava de ter dinheiro a sobrar para lhe dar o mundo...
Gostei muito de ler.
ResponderEliminarTambém me deparo muitas vezes com estas contradições... vezes demais talvez!