2 LIVROS REAIS...

Entre ontem e hoje terminei a leitura de dois livros, ambos contando histórias verídicas.

O primeiro, "Sorte", de Alice Sebold, que me tem acompanhando desde o dia 11, conta a história de uma vítima de violação, desde o momento em que tudo começou e quase até à atualidade.
A vítima foi a própria escritora, pelo que o relato é feito na primeira pessoa, o que faz com que o realismo com que os capítulos vão sendo contados me tenham deixado presa do início ao fim.
Alice foi uma vítima que lutou contra o homem que lhe mudou a vida e toda a experiência que nos é contada, da qual saliento o capítulo do seu depoimento em julgamento, me deixou ao mesmo tempo encantada e assustada, mostrando-me um mundo tão feio lá fora e como é possível sobreviver a um pesadelo real e manter a dignidade e a vontade de viver.
Fiquei com vontade de ler mais livros desta escritora, que teve nesta obra a sua primeira experiência literária, a qual lhe deu força para continuar a escrever.

O segundo livro, "Rúben, a espera é um prato", escrito por Isabel Costa, conta-nos a história de um menino português, lisboeta, que foi notícia no final dos anos 90 por ter morrido eletrocutado ao carregar no botão do semáforo para os peões.
Lembro-me perfeitamente deste acidente horrível que mudou a vida de uma família e que trouxe o pânico para as ruas e a indignação contra uma autarquia e uma empresa incapazes de se autoresponsabilizarem por algo que nunca deveria ter acontecido.
Neste livro, tudo nos é contado, ao mesmo tempo que conhecemos mais de perto todo o núcleo familiar, criando, inevitavelmente, empatia para com as personagens principais e inconformismo perante um episódio que nunca deveria ter acontecido e que marcou a vida de muita gente.
Isabel Costa, num discurso simples e realista, mas ao mesmo tempo humano e consciencioso, descreve pormenores que eu desconhecia e dá a conhecer o início do desfecho de uma luta de vários anos travada por uns pais que precisavam que alguém assumisse a responsabilidade pela morte do seu filho de 13 anos.

Gostei bastante de ambos os livros.

Não deveria ser preciso conhecer pesadelos na vida dos outros para dar valor ao que temos, mas a verdade é que acabei por pensar nas contrariedades da (minha) vida como pequeninos obstáculos que tenho obrigação moral de ultrapassar com mais facilidade perante tantos problemas gravíssimos que acontecem na vida de tanta gente. E nem é preciso pensar na fome, na guerra ou nos desastres naturais... basta olhar para o lado e ver como tanta gente vive com tão pouco e a necessitar tanto de todo e qualquer pouco que lhe possamos dar. Ainda que injustamente, imagens destas servem para me dar força e perceber que o meu caminho, apesar de ter curvas e pedregulhos como o de toda a gente, tem sido mais fácil de percorrer do que às vezes me parece.

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