MINDFULNESS NA CONDUÇÃO

Desde que treino meditação e mindfulness, procurando que façam parte do meu dia a dia, sinto uma grande diferença na minha postura perante aspetos e rotinas da vida. Uma das mais evidentes é a forma como lido com o trânsito e a condução.

Tenho de começar por dizer que gosto muito de conduzir. E não gosto de o fazer devagar. (Aliás, acho que conduzo pior a baixa velocidade!) Confesso que nem sempre fui uma condutora calma... Mas o mindfulness tem conseguido esse milagre (quase) diariamente. 

Não tenho sido uma condutora agressiva nem defensiva, como aconteceu tantas e tantas vezes que perdi a conta. Aceito o trânsito como ele está. Aceito as (boas e más) decisões dos outros como alheias e distantes das minhas, como um direito e uma liberdade de cada um, não julgo, não critico e não me envolvo no que não está nas minhas mãos.

Hoje em dia tenho consciência de que conduzo com mais prudência e tenho aproveitado melhor todas as viagens, das mais curtas às mais longas, das mais fluentes às mais condicionadas.

Antes ficava muito ansiosa com os congestionamentos, muitas vezes resmungava quando os outros, à minha frente, não abriam pisca ou conduziam excessivamente devagar, irritava-me com quem fazia a rotunda por fora e com isso dificultava a circulação segura ou com quem não tinha a (minha) gentileza de deixar outros passar quando se metem à estrada, com os carros estacionados fora das linhas... Tudo isto me influenciava, me aborrecia, me deixava tensa. Sentia-me sempre em estado de alerta. O coração cavalgava no peito, a respiração acelerada quase me deixava um nó na garganta, os reflexos pareciam entrar em dormência. 

Se nas viagens rotineiras conto com 30 minutos de caminho e estas situações me fazem perder tempo, não são elas as possíveis culpadas se chegar atrasada (que é algo de que não gosto!). Na verdade, eu serei culpada porque saí de casa à "justa", sem respeitar que a vida é imprevisível e muito pode acontecer quando vamos na estrada. É minha a responsabilidade de gerir esse tempo. Se fico tensa com a possibilidade de chegar atrasada, sou eu a responsável por sair mais cedo para minimizar as hipóteses de tal acontecer e não está correto passar essa responsabilidade para os outros, que seguem as suas próprias vidas.

A ansiedade que sentia continuava a habitar em mim e a tomar conta do meu dia, interferindo com a minha vida pessoal e profissional. Perdia mais facilmente a paciência, encarava como drama situações desfavoráveis, entrava em conflito por motivos sem importância, não controlava a irritabilidade com tanta facilidade, ficava angustiada e mais negativa... Por mais que pensemos que não tem influência, a verdade é que os nossos pensamentos e ações são um reflexo das emoções que sentimos e começar o dia num estado desnecessário de alerta de perigo não é a forma mais saudável de promover bem-estar para as horas seguintes.

Mas afinal, o que mudou? Como pratico mindfulness durante a condução? O que faço para que aqueles momentos sejam de consciência plena e me tragam paz, tranquilidade, calma e paciência, desviando-se de ansiedades e expandindo emoções positivas?

Faço assim:

- Certifico-me de que estou correta e confortavelmente sentada, de que vejo bem os espelhos, que os pés chegam perfeitamente aos pedais, que o cinto está bem preso, de que trago tudo comigo... Evito colocar o telemóvel por perto e verifico se está ligado ao altavoz;

- Mantenho o vidro aberto, ou com uma pequena abertura (conforme as condições atmosféricas) e respiro de forma mais consciente, sentindo o ar a entrar e a sair pelo nariz;

- Foco a atenção no presente, observando os pormenores do caminho, as cores, as imagens, as placas, a natureza (mesmo que uma mosca que pousou no vidro da frente), as linhas da estrada... Sempre que um pensamento do passado ou do presente surge na minha cabeça, aceito que assim o é, não analiso, não atribuo significado e volto ao presente;

- Não julgo e não critico nada nem ninguém. Sempre que um julgamento surge, conscientemente digo a mim mesma frases como "cada um é como é" ou "isso não é comigo" ou "terá as suas razões". Fico na minha e só me ocupo da minha viagem;

- Ouço a música que me apetece ou desligo o rádio se isso for melhor para mim;

- Agradeço cada pequeno gesto gentil de outro condutor, cada música que me pôs a cantar, cada semáforo que apanhei verde, cada pormenor bonito que os vermelhos me permitem ver... Agradeço as condições atmosféricas, sejam elas quais forem... Agradeço os pequenos sons que só consigo ouvir porque estou mais atenta;

- Pratico a gentileza, cedendo passagem em situações que percebo a dificuldade dos outros, cumprimentando-os e aos que o fazem comigo, respeito a velocidade dos ciclistas, apenas ultrapassando em segurança e valorizando o que fazem, sou gentil comigo não criticando quando faço algo menos perfeito 

Parece-vos difícil ou fácil?

Já o fazem? 

Funciona convosco?




Comentários

  1. Adoro às 7 horas da manhã quando ainda muitos estão a dormir e outros a levantar, iníciar a minha caminhada do dia de casa à escola, rezando, meditando, olhando as poucas pessoas que encontro e também analisando como foi o seu acordar o que deixou para trás, em casa ou no seu local de trabalho. Eu própria, penso o que deixei em casa, será que lá vou regressar ao final do dia de trabalho? Ouso os passarinhos, acho que alguns já me conhecem de me ver passar na estrada enquanto eles voam sobre mim. Vou só, mas com uma paz profunda, uma paz interior, uma sensação de dever cumprido, uma presença do criador sempre na minha companhia! Será que isto é felicidade? Será que a felicidade é isto, momentos? Como te compreendo, princesa. Beijinho.

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  2. Simplesmente fantástico.
    Eu era de perder a paciência muito facilmente e então passava a vida a buzinar para os que faziam disparates.
    Hoje já consigo controlar e tento ser mais serena em relação a isso.

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