UM RELÓGIO, UMA VIAGEM E UM CORRIMÃO

Não era a primeira vez que João olhava para o relógio naquela tarde. Desde que recebera o telefonema de Simone que não o conseguia evitar. O bater do coração incitava à perseguição dos três ponteiros que, naquele dia, pareciam mais pachorrentos que o normal.

Em cima da secretária, do lado esquerdo do computador, numa moldura a combinar com a decoração requintada do escritório, estava uma das fotos da última viagem a dois. Largou o teclado por minutos e fixou-se no sorriso daquela que considerava ser a mulher mais forte que conhecia, o ser humano mais doce e luminoso que se cruzara no seu caminho. Estavam felizes. Era visível não só nos lábios, mas nos olhos de ambos. Claro que a paisagem ajudava a criar o ambiente de felicidade, mas não era o mais importante naquele dia. Lembrava-se bem do que sentira durante aquelas férias na companhia de Simone.

Mais uma vez controlou os ponteiros. “Não vale a pena!” Tentava convencer-se, para que as emoções não o afastassem do que tinha de fazer. Não podia sair do clube sem entregar o relatório ao chefe e a verdade é que a desconcentração não facilitava a tarefa.

No tribunal, Salomé subia sozinha até ao segundo andar. Sem largar o corrimão, que a barriga pesava de mais para manter o equilíbrio, sentia fugir-lhe, a cada degrau, a esperança de que João chegasse a tempo da audiência. Não queria pressioná-lo, mas aquele passo era demasiado importante para estar sozinha.


Texto escrito para um desafio da escritora Analita Alves dos Santos:

Imagem retirada da internet

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