O QUE APRENDI (OU CONFIRMEI) COM O ENSINO À DISTÂNCIA

Ainda falta uma semana para terminar este ano letivo, mas hoje sinto vontade de fazer uma reflexão sobre estes últimos três meses da minha carreira de (quase) 21 anos.
Não foram, de todo, os melhores, mas também não foram os piores. Foram diferentes e deixaram marcas na vida de professores, alunos e pais que, assim o espero, levarão a Educação para um rumo melhor, mais que não seja porque aprendemos todos a dar (ainda mais) valor aos papéis de cada um.

A maior conclusão a que chego não é nova para mim: a escola precisa de estar sempre de mãos dadas com a família. Não apenas em momentos de crise ou dificuldade, nem tão pouco somente em festas e reuniões.
Os professores precisam de receber diariamente os pais como parceiros, permitir-lhe entrar na aprendizagem, respeitar as suas formas e tempos de educar, confiar que todos querem o melhor para os seus filhos.
Os pais precisam de estender as mãos para a escola, de braços e alma abertos para receber o que de melhor ela tem e ações críticas, construtivas e ativas para melhorar o que não é tão bom. Precisam de confiar no trabalho dos professores e respeitar a sua forma de ser e de trabalhar.
A escola precisa de ser um espaço humano, onde as crianças sintam que todos podemos ser diferentes e que cada um tem o seu papel, mas que estamos ali para elas, para o seu crescimento. Precisam de sentir que não faz mal errar se soubermos admitir, se fizermos as pazes (connosco, com os outros, com a aprendizagem), se dermos os passos necessários para melhorar.

Tenho tido sorte com os pais dos meus alunos. Sim, tenho. E estou grata por isso todos os dias da minha vida. Não me canso de dizer que somos uma equipa, que fazemos parte de uma família que é a turma, que o sucesso de um se transforma no sucesso de todos.
Também sei que é um caminho que se traça de ambos os lados, que precisa de empatia, de respeito, de confiança e de cedências como ingredientes principais. E esforço-me por estar à altura, adorando os seus filhos e ensinando com o coração.

Tudo isto, toda esta relação que agora se intensificou, todos os passos que ambos demos ao longo deste terceiro período, vêm ensinar-me ou (a maioria, diga-se) confirmar-me que há permissas quase indiscutíveis que não podem ser ignoradas:

- Mais não é sinónimo de melhor, não é necessariamente positivo nem produtivo.

- As aprendizagens devem ser significativas, partir de interesses e necessidades dos alunos e concretizarem-se em atividades e estratégias diversificadas, atuais, atrativas, multidiciplinares e desafiadoras, envolvendo a participação das crianças e articulando-se harmoniosamente as rotinas, as consolidações, as descobertas e a criatividade.

- O currículo, os conteúdos, as "matérias" são menos importantes que as competências.

- O interesse e participação dos pais são um grande motor de motivação para os seus filhos. (Como fazer uma criança valorizar a esoola se os seus pais a desvalorizam?)

- O reforço positivo, o feedback individual, a presença, a flexibilidade e a persistência são imprescindíveis no processo de ensino-aprendizagem.

- É extremamente difícil ensinar (ou ajudar) quem não quer ser ajudado. Podemos estar e mostrar-nos disponíveis para o fazer, oferecer momentos, ajustar  horários e condições materiais e físicas, encontrar mil estratégias e colocar-nos no caminho, que quem não quer ajuda de verdade não vai torná-la possível.

- Os pais também precisam de motivação, de incentivo, de compreensão, de aceitação, de reforço.

- Todos os alunos têm capacidades e competências por descobrir. Muitas vezes a escola não dá espaço e/ou tempo para que as revelem, não as rentabiliza, não as valoriza.

- Os alunos com mais dificuldades conseguem (muito) maior sucesso se tiverem alguém do seu lado enquanto trabalham Se forem apoiados diária e diretamente, se sentirem conforto e receberem atenção.

- Não há verdadeiro ensino sem socialização. A criança é um ser social. Precisa de conviver, de brincar, de pular e correr, de conversar, de resolver conflitos, de partilhar sentimentos e emoções, de experimentar, de dar ideias, de cair e levantar-se, de chamar a atenção... Precisa de estar com os colegas e o professor naquela pequena sociedade que o prepara para a grande sociedade.

- Os professores precisam da escola. Não precisam de papéis para mostrar que conhecem os seus alunos, não precisam de testes e exames para descobrir o que eles sabem e conseguem fazer, não precisam que os obriguem a mudar de estratégias e paradigmas, mas de sentir que o seu trabalho faz sentido, que marca a diferença, que é importante.

- O caminho deve ser a colaboração e não a competição. Cada um com as suas capacidades e competências, todos juntos para o mesmo objetivo... Valorizando-se os diferentes papéis, dando espaço para que se cresça individualmente, partilhando-se conhecimentos e respeitando-se as dificuldades.

- A resiliência é a competência do futuro, alidada à criatividade, ao sentido crítico e à cooperação.

Poderia escrever muito mais, mas poucos deverão ser os que leram até aqui...
Vou continuar reletindo, com os olhos no futuro, tentando fazer do presente o primeiro passo para o sucesso.


Comentários

  1. Eu li até ao fim e adorei! Pelas tuas lindas palavras reflete tudo o que sinto em relação à educação numa escola, alunos, professores, pais e a restante comunidade educativa, só assim se garante o sucesso na educação de uma criança e jovem. Obrigada.

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    1. Bom dia!!! Obrigada por ter lido até ao fim!
      A escola precisa de pessoas que pensem como nós!
      Beijocas

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  2. Alexandra Guimarães21 de junho de 2020 às 15:43

    Eu li tudo e concordo com o que foi escrito. A escola é um local de conhecimento, partilha, união.
    Saibamos reflectir sobre ela e contribuir para o sucesso do sistema educativo.

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    1. Obrigada pelas tuas palavras, minha querida!
      Vamos lá dar o nosso contributo.
      Beijocas

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  3. Olá Marisa! Concordamos com a ideia de que tudo funciona melhor se todos remarmos para o mesmo lado: alunos, professores e pais. Enquanto Pais podemos afirmar que a nossa experiência não foi lá muito positiva. Na nossa perspectiva, o acompanhamento que está a ser dado ao nosso Piruças pequeno é reduzido. Temos conhecimento de escolas aqui da nossa zona, que estão mesmo a realizar aulas online, como se estivessem na escola no que diz respeito a horários. O nosso pequeno só tem fichas que são enviadas todos os dias para realizar e uma aula às sextas-feiras de 40m com a sua professora. Sentimos que esta metodologia não está a ser producente, e a parte do ensino acaba por ser feita mais por nós. Enquanto profissional compreendo as limitações de muitos professores deste país até porque temos muitos professores que não sabem mexer em computadores... mas faz falta evoluirmos em vários aspectos educacionais e dotar os nossos professores cada vez mais em tecnologias e novas ferramentas, devíamos estar mais preparados para este tipo de situações.
    Aproveito ainda para dizer que me apercebi que os alunos com NEE só de há duas semanas para cá tiveram acesso a actividades para fazer... lamentável!!! Beijinho Marisa, e obrigada por ser a professora que é!

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    1. Boa tarde meus queridos!
      Compreendo bem o que dizem. Sei que nem todos os meus colegas fizeram como eu. Eu fiz aulas síncronas com os meus alunos e estive sempre presente através dos vários meios possíveis: whatsapp, messenger, sms, e-mail e videochamada. Não dei aulas com os horários como referem, nem nos foi aconselhado (pelos entendidos) que o fizessemos, mas estive sempre em contacto com eles e com os pais. Os meus alunos com NEE também foram sempre acompanhados e com tarefas indicadas às suas problemáticas. Não foi fácil, mas, no meu caso, foi mesmo um esforço conjunto. Isto vai muito do profissionalismo de cada um e de um relação de dois lados. Eu "chateei", perguntei, expus, gravei audios... Não deixei um dia sem contacto. Os pais também. Tudo me perguntavam, porque têm abertura para isso. Mas sei de colegas que estiveram tempos e tempos sem saber nada dos seus alunos... Não compreendo. Espero que todos repensemos na educação e que, daqui para a frente, muita coisa mude para melhor.

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