DESABAFOS DE UMA ANSIOSA PATOLÓGICA

A ansiedade parece ser já um tema muito batido, falado e badalado por toda a gente.

No entanto, só quem vive este problema, quem o sente invadir-lhe o espaço e o tempo de vida, é que compreende o alcance a que uma ansiedade aguda consegue chegar, destruindo a serenidade, o equilíbrio, a segurança e o bem-estar do nosso ser.

Quando falo de "sofrer de ansiedade" não quero dizer o mesmo do que "estar/ficar ansioso".

Todos nós ficamos ansiosos em momentos inesperados ou incertos, perante o desconhecido ou antecipando um acontecimento, seja ele bom ou mau.
Estar ansioso pode ser um sinal de grande expetativa, de desejo forte, de necessidade de defesa... A ansiedade faz o nosso corpo produzir adrenalina e outras hormonas úteis na nossa vida pelo que, levanso-nos a ganhar garra ou a ser mais cautelosos, provocando os nossos sentidos, colocando-os mais alerta e preparados para o que aí vem.

Sofrer de ansiedade é mais do que isto. É uma patologia clínica, um problema que prejudica a nossa qualidade de vida, que habita connosco intensamente. É uma resposta inadequada e desproporcional a qualquer estímulo, que persiste por mais tempo do que o necessário e que interfere com o funcionamento normal do nosso organismo.

A ansiedade pode surgir em momentos mais delicados da nossa vida, de forma pontual, em fases complicadas e desafiantes. Pode patologicamente instalar-se por um tempo como resposta a um período difícil na nossa vida. Altera-nos, complica-nos o quotidiano e precisa de ser tratada.

Mas também pode ser crónica, viver connosco, fazer parte do nosso dia a dia, caracterizar-nos perante os outros e nós próprios. Pode até tomar conta de nós, se deixarmos que isso aconteça, se não procurarmos ajuda ou formas de sermos mais fortes do que ela, que age dessimulada. Muitas vezes é confundida com "mau feitio", "mau humor", insatisfação constante ou insegurança.
Revela-se através de irritabilidade, impaciência, dificuldades em tomar decisões simples. O coração fica acelerado, a respiração incorreta, a racionalidade diminuida. Chega a impedir-nos de respirar e, em fases agudas, levar-nos a um ataque de pânico, com consequências diversas.

Eu sofro de ansidedade crónica. Não sou infeliz, nem insatisfeita com a vida, sei bem aquilo que quero dela e os caminhos que me fazem bem e mal. Tenho confiança no que sou e faço, bem como nas pessoas à minha volta, e tenho força suficiente para resolver os meus contratempos, sejam ou não graves. Luto por aquilo que quero e tenho ganho, ao longos dos anos, muitas ferramentas que me ajudam a controlar esta doença e me proporcionam uma vida comum. Na verdade, penso que estou em em busca de formas de autocontrolo e de domínio das situações, pois quero estar cada vez mais preparada para combater a ansiedade assim que deteto os primeiros sinais.

Todas as pessoas que sofrem deste "mal" mostram sentir necessidade de fazer chegar aos outros a mensagem de que há formas de saber lidar com ela, embora não sejam fáceis de descobrir e, principalmente, de aplicar.

Porque viver/conviver com uma pessoa ansiosa pode ser muito difícil. Compreender e aceitar os impulsos, a irracionalidade nas palavras e ações, o desespero em momentos inoportunos e ajudar a dominar tudo isto não é, definitivamente, para todos. É preciso manter sempre presentes alguns conhecimentos práticos sobre a ansiedade para conseguir apoiar nos moments de maior agonia:

- A ansiedade é desgastante e é normal que nos deixe exaustos;
- O ansioso muitas vezes tem consciência de que a sua ansiedade é irracional;
- Durante um ataque de ansiedade, o ansioso pensa muito e rapidamente;
- A ansiedade não é uma chamada de atenção;
- O isolamento do ansioso não é sinal de que há algo de errado com os outros;
- Os ansiosos têm receio de que as pessoas os considerem vulneráveis, fracos, chatos (...),

Muitas vezes, nem nós próprios sabemos como precisamos que os outros ajam, o que nos devem dizer ou fazer para ajudar. Cada um de nós tem mecanismos e necessidades diferentes e é importante falar sobre eles com quem vive connosco, para descobrirmos juntos as melhores formas de dominar a situação.

No entanto, há um conjunto de atitudes ou palavras que não devem ser usadas em momentos de ansiedade aguda, pois intensificam-na e prolongam-na, prejudicando, por vezes gravemente, a pessoa que sofre naquele momento.
Apesar da especificidade de cada pessoa/situação, há comportamentos básicos que ajudam um pouco e que permitem ao ansioso ganhar espaço e tempo para aplicar as suas próprias estratégias de controlo, sejam elas químicas, mentais, espirituais ou físicas:

- Mostrar calma e compreensão;
- Não pressionar a tomada de decisões;
- Colocar o ansioso num local o máximo tranquilo, isolado de pessoas, sons, luze, movimentos...;
- Deixar o ansioso falar (se quiser), sem fazer perguntas;
- Permitir que fique sozinho, se assim preferir;
- Fazer por ele pequenas tarefas que a ansiedade não está a deixá-lo fazer;
- Manter a tranquilidade e não fazer perguntas como "estás bem?", "o que se passa?", "o que aconteceu?", "porque estás assim?"...
- Não dar ordens nem dizer frases como "acalma-te", "isso não é grave" "toda a gente fica ansiosa", "eu também tenho problemas", "não te preocupes";
- Fazer sugestões simples, sem insistir, baseadas noutras experiências bem sucedidas, como "respira fundo", "medita", "
- Dizer que o ama e que pode contar consigo.


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