FIZ AS PAZES COM O TEMPO

Algum dia teria de acontecer. Era inevitável e, sobretudo, desejável. Contudo, por mais que já tivesse tentado outras vezes, confesso que não fui suficientemente insistente, nem consegui ultrapassar a barreira de falar sobre ele com toda a gente. Afinal, quem não tem sempre algo a dizer sobre o tempo?
Cansei-me de lhe dizer que trouxesse o sol, sempre que o dia estava cinzento, pingas caiam, ou o vento, bravo ou meigo, aparecia. Pedi-lhe calor. Dizia humildemente, com olhar suplicante e insistente, que precisava de vitamina D para andar mais contente. 
Também me fartei de pedir algum fresquinho quando o tempo, atinadinho, me trazia um sol ardente. (Raio de mulher que nunca estava contente!) Ou porque transpirava demais ou porque me faltava o ar, a verdade é que também do sol me punha a reclamar.
Pensei que estava a ser injusta com o pobre coitado, que andava ali todo atrapalhado, sem saber se a chuva era boa porque regava ou má porque poças no chão formava. Que arrelia! (Sei que o tempo dizia!)
Talvez toda a minha reclamação não fosse mais do que indecisão do que realmente me agradava. Ou seria falta de coragem de confessar ao mundo que, bem lá no fundo, nem concordava que dele se falasse nos cafés, nos encontros fortuitos no elevador e em filas de espera para o doutor? Seria?
Fosse porque fosse, tinha de fazer as pazes com ele. Esta zanga era algo que me atormentava e, na verdade, me colocava menos satisfeita com a vida. É que a reclamação, apesar de parecer que não, destrói a alegria e deixa mais negro o nosso dia!
Fiz, então, as pazes com o tempo e agora dou-lhe liberdade total. Pode andar por aí à vontade que dele não volto a dizer mal.
Se chover, uso um guarda-chuva a combinar com os botins e penso como estarão felizes as plantas nos jardins.
Se fizer frio, lá vou eu de boina, luvas e cachecol procurar um vendedor de castanhas ou ficar no quentinho do sofá a ver arder as lenhas.
Se o sol aquecer demais, há leques bem originais para usar! E posso ir à praia mergulhar... ou um banho bem frio tomar... (Para que servem as sombras se eu não as usar?)
Também deixo o vento aparecer, que gosto de ver tudo a dançar. E é sabido que há árvores que as folhas têm de mudar! (Para quê reclamar?)
Com as pazes feitas e tudo bem esclarecido, posso continuar a alegrar-me com o arco-íris colorido que entre a chuva e o sol me vem felicitar.


Comentários

  1. Olá Marisa!
    Adorei o post.
    Para quê estar chateado com o tempo, se podemos aproveitar da melhor maneira.
    Esteja sol, chuva ou vento, podemos ser felizes na mesma mas à nossa maneira. 😉

    Beijinhos
    Os Piruças

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    Respostas
    1. Verdade!!
      E quando encaramos as coisas desta forma, aceitando o tempo como está (até porque não o podemos mudar), tudo fica mais feliz.
      Beijocas e boa semana

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