COISINHAS QUE INCENDIAM A ALMA

Há coisas que me incomodam, que me criam ansiedades, neuras, inseguranças. Coisas pequenas ou pequeninas, que parecem não incomodar mais ninguém. Normalmente são inofensivas, indolores e, até, insignificantes. Para os outros. Para mim são dragões invisíveis que chegam para atear faíscas nos pedaços mais recônditos, erógenos e melindrosos do meu ser. Despertam o fogo que passo a vida a tentar apagar, que consigo dolorosamente controlar nos dias normais. São coisinhas que injetam álcool em feridas aparentemente saradas, com cicatrizes disfarçadas de bonitas tatuagens.
São coisas que aparecem quando menos espero, que saltam à minba frente (ou sobre mim) em conversas banais ou discursos de outrem, que se infiltram sorrateiramente nas palavras, transformando-as em balas e provocando confrontos idiotas, criticáveis, desnecessários entre o ego, o superego e o alterego. Às vezes, este confronto envolve momentaneamente os outros, causando transtornos, incómodos, tons de voz que crescem, provocações em novas palavras, sons ou atitudes.
Quase sempre estas coisas resultam em irritações que espantam e lágrimas que escorregam até navegarem nos meus lábios e acalmarem a ânsia de justificar o inquestionável, de questionar justificações patéticas. Depois vem a ansiedade. E ela, com um sufoco estrangulador, esgota todo o ar disponível, congelando gestos e pensamentos, petrificando qualquer racionalidade até conseguir a inércia da alma.
Estas coisas pequenas e pequeninas não têm sentido nem tenho forma de as entender ou prever. São estúpidas demais.
Sim, porque as coisas grandes, as que não picam mas esmagam, já as conheço e sei controlar. Compreendo-as e às suas origens, aceito-as como reflexos da vida, dos momentos, acontecimentos e gentes que por ela passaram. São visíveis para mim, fazem assumidamente parte do "eu" e, por maiores que sejam, não me assustam e cada vez me incomodam menos.
Agora as coisinhas...


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