PROVAS DE AFERIÇÃO AOS 8 ANOS?

Hoje os meus alunos do 2.º ano fizeram provas de aferição de Português e Estudo do Meio.
Felizmente não aparentavam estar muito nervosos, em parte porque eu própria me encontrava tranquila em relação às provas e lhes transmiti serenidade e confiança. A eles e aos pais.
Não menti aos miúdos, até porque não acredito em mentiras piedosos nem convenientes. Disse-lhes que eram provas para aferir como estão os conteúdos a ser aprendidos pelos alunos e, frontalmente, referi que também eram para ver como estavam os professores a conseguir ensiná-los. (Eu acredito que é para isto mesmo!) Disse-lhes que a sua transição não estava dependente desta prova e que só iríamos saber os resultados no início do próximo ano, mas pedi-lhe que se esforçassem para mostrar que eram capazes e que trabalhámos muito durante o ano. Acho que entenderam bem a mensagem!

Na semana passada, treinei com eles usando as provas do ano passado, para que aprendessem a preencher o cabeçalho, especialmente a copiar o número do cartão de cidadão, e para que tivessem contacto com questões semelhantes. Foram fazendo sozinhos, fomos corrigindo e tirando dúvidas, percebemos onde estavam as maiores dificuldades e de onde vinham. Analisámos a linguagem e o que lhes era pedido em cada pergunta. Fizemos ao ritmo do grupo, com as paragens necessárias e os esclarecimentos na hora certa. Não correu mal. Foi mais uma experiência de aprendizagem.

Hoje chegaram todos a horas, a maioria não esqueceu o cartão de cidadão e cumpriram as regras como meninos crescidos. Mas, para quê? Digam-me, sinceramente, para quê sujeitar crianças de 8 anos a este tipo de prova, com protocolos XPTO e linguagem elaborada? Para quê toda esta logística e rigidez de horários, de materiais, de espaços, de burocracias? Para quê tanto papel impresso, tantas horas pagas a "especialistas", tantos regulamentos e circulares? Para quê entradas por ordem e tempos certos para responder a cada parte, com direito a sinal de STOP a dividi-las? Para quê exigir que crianças de 8 anos, após 9 meses de aulas, se concentrem durante mais de 1h30 numa "ficha" que não vão poder corrigir nem ver cotada, mantendo-se calados e quietos enquanto o tempo não passa, se forem dos despachados, ou correndo com a ponta dos dedos, se forem dos que precisam de um pouco mais de tempo?

Não veio o decreto-lei 54/2018 afirmar que todos os alunos são diferentes e que todos deverão ser incluídos, respeitando-se a individualidade de cada um, o seu ritmo e forma de aprendizagem, valorizando-se as diferenças e rentabilizando-se competências e conhecimentos pessoais»?
Não está a escola a caminhar para a integração de todos, indo ao encontro de cada um e promovendo o seu sucesso educativo, adaptando-se estratégias e medidas à especificidade de cada criança?
Então, para quê continuar com este absurdo? Para quê desperdiçar a última semana com "livros" de perguntas que fingem mostrar se os nossos alunos estão preparado para o (grande) 3.ºano?

Não acredito nestas provas, nem lhes atribuo valor. Finjo um pouco. Tem de ser. Mas não compreendo para que servem, na realidade prática, nem porque continuam a existir se queremos que a escola passe a ser mais inclusiva e equitativa.

Entretanto, amanhã lá vou buscar provas para corrigir... Mais um trabalho para as horas não letivas, para roubar tempo ao que realmente importa. Mais umas noitadas a atribuir pontos e preencher papéis desnecessários. Mais viagens para buscar e levar, tabelas para preencher, mails para trocar. E a malta vai porque é obrigada. Mas a malta não entende para quê e reclama.

Na quarta-feira há mais.
Venha a prova de aferição de Matemática!

(Clicar na imagem para ter acesso ao arquivo de provas)

Comentários

Booking.com