«O PROCESSO», DE FRANZ KAFKA

Há livros cujos nomes conhecemos (quase) desde sempre mas que nunca nos passaram pelas mãos e muito menos pelos olhos. 😊
No meu caso, posso dizer que ouço falar de "O Processo" (pelo menos) desde a minha adolescência.
Franz Kafka é um nome sonante no ensino secundário (ou seria apenas na minha altura???) e recordo-me de falarmos muito sobre esta sua obra e sobre "A Metamorfose". Não tinha ainda lido nenhum destes livros e foi com muito ânimo que me aventurei na leitura difícil e complexa de um deles.

"O Processo" conta a história de Joseph K. (identificado como K. na obra), um gerente bancário que vive sozinho num quarto alugado e que, certa manhã, recebe a visita de dois homens que o informam de que é alvo de um processo. Sem saber do que se trata, sem ninguém lhe dizer de que é acusado, K. vê-se envolvido num complexo e incompreensível processo judicial, cheio de meandros e surpresas, que lhe transforma a vida e as relações humanas.
Este livro, escrito em 1920 e publicado postumamente em 1925, inicia um legado de estilo literário, que vem a denominar-se de «kafkiano» e que influencia muitos escritores, definido como complicado, labiríntico e surreal.

"O Processo" é um livro muito complexo, com uma história pesada e repleta de situações caricatas, irreais e exacerbadas. Tem um quê de louco e absurdo, incluíndo algumas situações irreais e outras de caráter mais corriqueiro.
A linguagem usada é realmente muito peculiar, mas cativante. Kafka usa muita adjetivação, o que enriquece o discurso, faz descrições de sítios e pessoas que nos deixam presos às mesmas e usa muito o diálogo para nos conduzir à caracterização das personagens.
A crítica social e política está presente em toda a obra, subtilmente se aludindo a ações de corrupção, burocracias e troca de favores. Surgem implícitas diversas críticas às condições de trabalho no sistema judicial, bem como à atuação do seus trabalhadores, desvalorizando-se as suas funções e capacidades de trabalho.
Detetei também uma forte desvalorização social da mulher, quase exclusivamente presente em personagens libertinas e/ou serviçais, apresentadas em posições de subjugação aos homens e por eles manipuladas e conduzidas na vida.

Gostei de "O Processo", apesar de não ter sido uma leitura fácil nem fluída.
Durante todo o tempo, estive curiosa em relação aos motivos do tal processo, sempre na expetativa de descobri-los nas entrelinhas ou de surgirem bem explicítos na obra. (Não digo mais nada para não deixar spoilers!)
Gostei de descobrir a tal escrita «kafkiana», que agora considero desafiadora e enigmática, exigindo mais do leitor, instigando o seu espírito crítico, criativo e analítico, bem como o sentido de humor, e trazendo à tona preconceitos sociais.

Li esta obra em formato digital, através da Biblioteca Wook, a qual me permite ler também offline, através de uma aplicação gratuita para o telemóvel. Foi a primeira vez que o fiz usando este meio e até gostei. Para além de ter ficado muito económica a sua compra (0,99€), o livro estava sempre disponível em qualquer lado e ocupando o mínimo espaço na mala, sendo fácil pegar nele e ler aos pouquinhos. No entanto, nada se compara ao prazer de folhear ou ao cheiro do papel, por isso continuo a preferir livros físicos.

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