ESCURIDÃO EM MIM

Estou num mau momento, numa fase dura, daquelas que parecem arrancar-nos pedaços bons e levá-los sabe-se lá para onde.
Ando triste, apática, taciturna, quieta... diferente de mim mesma.
Escondeu-se o sorriso, tanto o aberto e brilhante, como o envergonhado ou apenas simpático.
Sei que tenho os olhos baços e não consigo colocar as lentes de contacto. São rejeitadas, arranham, embaciam.
Só me apetece dormir. Ou melhor, deitar. Ficar deitadinha no conforto do meu ninho, abraçada à amiga almofada, guardadora de tantos segredos, sonhos, medos...
Tudo o que digo me faz chorar, por isso fico calada. Não aguento o barulho nem da minha voz.
Mando todos se calarem, mesmo sabendo que as suas gargalhadas e gritarias de entusiamo são a música mais contagiante e luminosa que conheço.
Hoje, não.
Hoje, não quero ouvir nada, nem ninguém.
Já ontem estive assim, mas  sei que vai passar. «Passa sempre», já costumo dizer. Sei que é mesmo assim.
Também já sei que, para isso, não posso ficar deitada, de pijama, aprofundando a dor interior que, sem razão alguma, teima em estrangular o peito, pouco espaço deixando para qualquer sentimento bom, mas alimentando a angústia e o desespero.
Sei que o banho ajuda. Vestir e sair uns minutos ajuda.
Sei que ajuda contrariar a vontade de fugir, devagarinho e com pequenas ações (que nestas fases parecem enormes e impossíveis de alcançar). Ajuda fazer qualquer coisa e, mais ainda, alguma coisa de que gostemos. E tenho-o feito... Ontem, hoje... coisa que têm de ser, obrigações por cumprir, trabalhos para preparar... Ao menos ocupo o corpo...
Chove lá fora. Cá dentro, em casa, começa a ficar escuro. Dentro de mim, a escuridão espera que palavras de sol iluminem uma alma que pesa, carregada de lágrimas que terá de chover.
Esperançosa, acredito que amanhã já passou.