MAIS UMA ÚLTIMA DESPEDIDA, AVÔ

Avô,
Na sexta-feira fui ver-te logo pela manhã. Tinha saudades, muitas saudades. Ainda tenho, na verdade, porque não cheguei a ver o homem bom e forte que tu eras.
Vi restos de ti num espaço demasiado pequeno para ser o teu... Demasiado estreito para o tamanho do teu ser... Vi o que sobrou de quase 9 anos de uma morada que nunca quiseste que fosse tua, da qual fugiste persistentemente, fingindo não a ver por perto, negando-lhe a música de lamúrios e gritos.
Estavas ali, mas não estavas. Eram apenas pedaços soltos de um corpo menor que a alma, onde o coração quase não cabia, apesar da fita métrica achar que deveria. Eram pedacinhos de uma vida inteira lutando por valores que receio se perderem no espaço e no tempo: liberdade, justiça, solidariedade, igualdade, honestidade...
Reconheci-te nas roupas com que te despediste e na marca deixada por uma luta vencida contra um demónio da vida.
Doeu um pouco... Mas não doeu. Foi bom despedir-me mais uma vez de uma parte de um todo muito maior que o Universo. Ainda bem que fui, apesar de não TE ter visto. Foi bom ter testemunhado o início da viagem até à morada onde os teus restos, enfim, descansarão junto aos dela, bem mais pequenos e frágeis... De certo também acompanharam este embarcar, de mãos dadas, unidos lá do Céu donde nos velam e protegem. Senti-vos por ali... bem pertinho...
Falei contigo, agradeci o privilégio de termos convivido e a honra de ter herdado tanto de ti. E despedi-me de novo... não para sempre, apesar de ser a última, mas para logo... Um "até amanhã" ou um "até já" iguais aos que TE digo quando falamos à nossa maneira.
Por isso, avô, fui ver-te mas não te vi. E continuo a sentir-TE por aqui!
Te amo!

 

Comentários

Booking.com