Ontem entrei numa igreja. Há muito que não o fazia, nem sei bem porquê. Acho que parei de acreditar no que por lá se passa nas horas a que mais ia, nas eucaristias, nas festas e celebrações. Nesses dias, todas as pessoas se tornam boas, mesmo que, no dia a dia, cuspam no prato que comem, passem rasteiras ao vizinho da frente ou fervam a vida ao colega de trabalho.
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Igreja de São Julião, em Setúbal |
Deixei de acreditar que aquelas confissões nos tornam mais santos. Não estará a solução na soma do percebemos que errámos com o pedido de desculpa, multiplicado pela mudança de comportamento daí para a frente? Não será isto que Ele quer? Será que o arrependimento, o perdão (do outro e a nós próprios) e a transformação não serão os degraus que mais nos aproximam Dele e, por isso, nos tornam pessoas melhores?
Eu acredito em Deus e nas lições de um homem justo, sábio, carismático e líder que por Ele foi iluminado na terra e nos ensinou a amar indefinidamente.
Não basta ouvir a Sua palavra lida por um profissional da Fé... Não basta rezar a mesma ladainha de há séculos...
Não basta cantar com a melhor voz e chorar nas palavras mais emocionantes.
Talvez ajude, mas não basta.
Já acreditei numa Igreja de rituais e sacramentos.
Eu própria fi-los na juventude, ensinei-os no início da idade adulta, confirmei-os durante anos casando, indo à Eucaristia, confessando-me...
Já fiz parte do grupo que segue Jesus dessa forma.
Não me arrependo. Sei que me fez bem.
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Pormenor da Praça do Bocage (onde se localiza) |
Hoje, não dizendo que sou contra (como ser se acredito Nele?), não cumpro...
Soube-me bem entrar na Igreja.
Soube-me muito bem ser convidada por Ele a entrar em Sua casa, quando estava simplesmente sentada a ler num banco em frente.
Entrei em silêncio, cumprimentei o anfitrião...
Sentei-me discretamente num banco ao centro...
E rezei. Falei com Ele, tal como faria se estivesse fisicamente a receber-me na sala de estar ou no hall de entrada.
Falei-lhe da minha vida, não contando pormenores ou histórias (porque sei que Ele as conhece e acompanha), mas do que elas me dizem cá dentro.
Ele ouviu-me pacientemente, apesar de me conhecer como ninguém.
Agradeci. Tenho muita coisa para agradecer e fi-lo honestamente, abrindo a alma e o peito. Agradeci pelas pessoas que se cruzaram no meu caminho (as que ficaram e as que partiram), pelos sucessos que pude festejar e as derrotas que me ensinaram e me obrigaram a seguir em frente, pelas estradas que a vida me apresenta e as escolhas (certas e erradas) que faço no caminho para a felicidade.
Agradeci pela pessoa que eu sou. Não poderia deixar de o fazer, porque é comigo que vou viver para sempre e sou a única responsável pelos sorrisos e lágrimas que em mim habitam.
Não Lhe pedi mais nada para além de que continuasse a olhar por mim e pelos meus, a falar comigo, a convidar-me para ser um exemplo Dele no dia a dia da vida real e a apoiar esta minha forma intensa e simples de amar.
Saí de Sua casa tranquila e leve.
Sorrateiramente voltei para a minha vida, mas não sem me despedir do dono com um abraço do tamanho do mundo, como gosto tanto de dar a toda a gente.
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