CARTA (DE AMOR) PARA MIM MESMA

Olá Marisa!
Há muito que queria escrever-te e parece que chegou o momento certo para o fazer.
Perdoa-me se não encontrar as palavras certas ou se tiver de usar metáforas para te revelar o que penso e sinto por ti, mas não é fácil esta tarefa de te dizer o quão importante e bonita és. Não desisto de tentar fazer com que acredites em mim, pois sei que, sempre que releres estas palavras, encontrarás o porto de abrigo onde ancorar quando te vês distorcida e derrotada. Tu não és a pessoa que imaginas nesses dias de tempestade.
Há várias coisas que admiro em ti. (Sim, é verdade, estou a dizê-lo!)
Poderei tentar resumi-las ao dizer que adoro o teu coração gigante. Talvez ele seja a tua arma mais poderosa. Apesar de não te aperceberes nem de a usares intencionalmente, é com ela que atinges as pessoas e acredita que lhes deixas cicatrizes. Também é usada pelos outros para te ferir, o que te deixa triste e, depois, revoltada, mas o mundo é assim, capaz de se apoderar do que de melhor há nos outros para alimentar o ego.
É nesta máquina de amor, que quando bate parece nem caber no peito, que habitam as tuas maiores qualidades: a sensibilidade, a compreensão, a ternura, a tolerância, a generosidade e a empatia. Com elas, traças um dia a dia edílico, acreditando que toda a gente é igual a ti e que não há maldade nos sorrisos, nas palavras nem nas ações. Não a vês com facilidade e tanto que me zango contigo por seres ingénua dessa maneira! (Não podes continuar a acreditar!)
Ainda bem que tens alguns defeitos que travam esta tua bondade de alma e fé infantil nas relações cor-de-rosa: és teimosa, impertinente, explosiva, casmurra, bruta e revoltas-te facilmente quando te sentes injustiçada ou desiludida.
Há algo em ti que me tira do sério e que, às vezes, te torna insuportável: detestas ser contrariada. Miúda, põe-te a pau porque aquelas facadas que sentes no peito e que costumas atribuir a desilusões acontecem muito quando não te fazem a vontade, não concordam contigo ou não te dizem o que esperas (ou precisas) ouvir. Não pode ser!
Outra coisa: porque és tão insegura se muitas vezes sabes perfeitamente o que queres e consegues? Explica-me, porque não entendo. Pareces duas pessoas diferentes. Como podes tremer de insegurança e não deixar que aquelas ideias tão bem definidas que povoam o teu consciente te fortaleçam? Que inconsciência!
Sabes, nestes 40 anos de convivência tenho aprendido muito contigo. Sei que não o assumes muitas vezes, mas já viste que estás sempre à procura de mais qualquer coisa? És exigente contigo, por isso gostas de estar sempre em evolução, mas também exiges dos outros, o que nem sempre é bom e (muito menos) fácil para quem convive contigo e te ama. Não sossegas. És ansiosa e queres sempre mais de ti e da vida. Tem calma! Descontrái mais vezes. Tu és tão divertida quando estás descontraída! Tornas-te engraçada, brincalhona, atrevida, aventureira... não é tão bom? Dás umas gargalhadas contagiantes e espalhas luz à tua volta. Isso é fantástico, miúda!
Olha, esta carta já vai longa e confesso-me tão surpreendida com a sinceridade que consegui colocar em cada palavra que não arrisco a escrever muito mais para não estragar nada. Também não quero ser cansativa, pois sei que não estás habituada e podes desistir de acreditar.
Não posso é deixar de fazer um reparo final. Já viste como andas destrambelhada e distraída? Tens de parar de sonhar quando andas na rua, que não há gelo, betadine ou bepanthene que aguente! E vê se vais mudar as lentes porque isso de não perceberes que tens boa aparência e que, com mais ou menos quilos, és uma quarentona gira já começa a chatear à brava!
Cuida-te, vá!

Muitas beijocas e abraços apertadinhos
Daquela que muito te ama (pronto, já confessei),

Marisa Luna

Carta escrita para ESTE DESAFIO.

Comentários

  1. Gostei de ler o que escreveste. Nem sempre é fácil falar de nós mesmos.

    www.trapinhartes.blogspot.com

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    Respostas
    1. Olá querida.
      Não é nada fácil, não. É preciso entrar no espírito e estar em dia sim. Em dia não fica mais fácil, mas a nossa imagem sai muito diferente da realidade.
      Beijocas

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