SARDAS, MUITAS SARDAS...

Quando era miúda tinha já algumas sardas e muitos sinais. Sardas na face, principalmente no nariz e nas maçãs do rosto, pouquinhas nos braços e nas costas, discretamente misturadas com muitos sinais, ainda menos no resto do corpo.
Não me recordo o que pensava delas, se gostava ou não de as ter, mas sei que durante a adolecência simplesmente as detestei. Não as queria e ansiava poder maquilhar-me para as conseguir esconder. Nunca aprendi a fazê-lo... nem sei se tentei, mas, sobretudo no verão, desejava que não dessem muito nas vistas e corava de vergonha se alguém fazia questão de as mencionar na conversa ou se ficava de olhar fixo em algumas mais atrevidas.
Já adulta, quiçá lá para os 20 e tal, quase sem dar conta de que se tinham multiplicado, dizia muitas vezes que gostava das minhas sardas e tinha pena de não ter mesmo o cabelo ruivo, para compor o visual com os olhos azuis que já tenho! Adorava a combinação!
Aos chegar aos 40, olho para mim no espelho e percebo que este sentimento está (como eu) bem mais maduro... Gosto das minhas sardas! Gosto muito. Identifico-me com elas e já não consigo imaginar-me sem ser assim pintalgada por todo o lado, sem estas manchinhas de estimação que têm aumentado em cada ano, como que mostrando à sua anfitriã como gostam de fazer parte dela e como a representam por onde quer que passe. Agora gosto de vê-las por todo o lado, adorando o verão só porque as acorda e as leva a espreguiçarem-se com todo o seu brilho e carisma. Gosto de estar assim tão bem acompanhada, de observá-las quando trato do rosto ou coloco hidratante no resto do corpo, de quase conseguir vê-las quando troco os olhos para olhar o meu  próprio nariz. Gosto que me pintem assim de originalidade, de autenticidade... Gosto de ver como invadiram, discreta e lentamente, toda a minha pele, reforçando uma identidade única que vou aprendendo a reconhecer e valorizar em mim.

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