CHOREI TODAS AS LÁGRIMAS QUE GUARDEI

Há meses que não tinha um ataque de choro, mas ontem chorei como se o mundo estivesse a acabar. Não é que não tivesse já sentido vontade de o fazer. Senti-a. Larguei algumas lágrimas num momento em que fui confrontada e senti desilusão, chorei por dentro em muitas outras situações... mas ataques como o de ontem, há muito que não acontecia.
Já esperava por ele. Confesso até que já ansiava por ele. Não pelo que me provoca no momento, mas pelo que fica depois de desaparecer.
Andava a acumular pequenas dores, frustrações, desilusões e cansaços há muito tempo, há demasiado tempo até. Andava engolindo, enterrando, interiorizando há meses.
Os apertos na garganta, as fortes picadas no peito, quase parecendo facadas, a dificuldade em respirar, as dores de cabeça surgindo do nada... tudo sinais que já conheço, tudo formas do corpo revelar que aquele incidente ou aquela conduta ou aquelas palavras estavam se acumulando em mim.
Ontem bastou uma pequena conversa ao telemóvel, quase igual a tantas outras sobre um assunto que me melindra, para a «torneira» se abrir e o mundo sair pelos meus olhos.
Chorei por tudo o que me magoou nos últimos meses, por todas as lágrimas que fui evitando largar.
Chorei até entrar em pânico e não saber o que estava a fazer, nem como cheguei a casa.
Chorei como uma criança perdida, como alguém que perdeu outro alguém, como um inocente cruelmente atacado.
Chorei e fiquei sem conseguir fazer a minha vida normal.
Foi chorando desalmadamente que me deitei, me aninhei no meu canto sozinha, não suportando vozes nem luzes, não querendo ninguém comigo nem por perto.
Enrosquei-me, dormi do cansaço do choro. Acordei e adormeci vezes sem conta. Fiquei apática, parada, de cabeça vazia. Chorei de novo. Deitei tudo cá para fora durante horas.
Estive cá e lá até de manhã, com dores na alma que, felizmente, não somatizaram em dores físicas para além da cabeça.
Hoje consegui levantar-me para almoçar. Já me sinto melhor. Já descarreguei.
Os olhos revelam o choro. A cabeça manifesta o cansaço de uma bomba que terminou de rebentar. A alma está vazia de emoções. Mas estou leve e já consigo pensar em coisas boas e no que de melhor tenho na vida.
Doeu bastante. Doeu horrores. Mas já passou. Passou e levou aqueles apertos que, durante meses, me fustigaram aos poucochinhos.
Agora é levantar a cabeça e seguir em frente. Recomeçar com outro espaço na mente e até no corpo.
Ainda não estou a sorrir, mas sei que amanhã o farei.
Sim, porque depressão não é tristeza.
E chorar é uma forma de recomeçar depois do luto de palavras e ações que não dão vida.

Comentários

  1. Marisa há algum tempo que não ouvia ou melhor lia algo do seu blog. Sei que ja tivemos uma interação qualquer mas não me lembro bem de quê, se seria da minha página Homemade gift... Bem o certo é que o que descreve é para mim familiar e concordo que chorar faz bem à alma. Não devemos é acumular muitas situações mal resolvidas, angústias ou stress. Espero que agora se sinta mais aliviada e bola pra frente. Beijinhos

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  2. Olá minha querida.
    Obrigada pelas suas palavras.
    Depois de chorar, a angústia passou. Ainda aqui ficou qualquer coisinha... mas vai lá!!
    Beijinhos bem grandes

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