DIZEM QUE SOU POSITIVA

Durante muito tempo (anos, mesmo) não entendia nem concordava quando me diziam que eu era uma pessoa positiva. Diziam que sim, mas eu achava sempre que o faziam para me alegrar ou para me transmitir «coragem» para deixar de lado os pensamentos mais negros sobre a vida. Outras vezes pensava que só me consideravam positiva as pessoas mais pessimistas. Cheguei mesmo a considerar que enganava toda a gente à minha volta, transmitindo aquilo que não sentia e camuflando as imagens negativas que enchiam a minha mente.
Hoje sei que nada disto é verdade. Hoje consigo ver positivismo em mim e perceber como esta minha característica tem ajudado o meu mundo a caminhar em direção ao sol.
Na verdade, quando acontece alguma coisa menos boa, quando me deparo com dificuldades e obstáculos, quando o «barco» começa a «ir ao fundo» ou as luzes se apagam à minha volta, a minha primeira reação, instintiva e imediata, é chorar. Dói no peito, sinto uma facada e choro... Parece que o mundo vai acabar (ou inundar-se?) naqueles minutos. Quanto maior é a «desgraça» mais ruidoso é o choro. Choro porque alivia e, ao que parece, o choro traz para fora a negatividade da situação. Posso chorar durante uns minutos ou durante horas... algumas vezes de seguida... noutras por «episódios» que regressam sempre que me lembro do que aconteceu ou prevejo o que vem aí. Mas depois passa. Passa sempre.
E depois do verdadeiro mar de emoções vem a disposição para seguir em frente, o arregaçar das mangas, o acreditar que tudo se vai resolver. Vem a reflexão sobre o que fazer para melhorar, a busca das ferramentas necessárias, a redefinição de objetivos e a escolha de novos caminhos. Porque há sempre uma solução e uma forma de dar a volta. (Até porque dizem que só para a morte é que não há mesmo solução. «Dizem» lol)
Ainda que não surjam imediatamente, muitas vezes por culpa do dito choro, as imagens das soluções vêm à minha cabeça e consigo seguir em frente com o olhar no horizonte. Muitas vezes ainda dorida, já vejo as cores lá em frente e sei que, fácil ou dificilmente, a elas chegarei para me pintar.
Não sou uma positiva otimista, daquelas que acha que tudo vai correr bem e que nada precisamos de fazer para isso acontecer. Não acredito na sorte nem tenho fé que algo ou alguém transforme o mau em excelente. Não consigo dizer «ainda bem» quando algo de mau acontece, acreditando que logo depois vem a bonança e resolve. Não fico parada a assistir às derrocadas da vida só por confiar que os pedregulhos um dia se irão transformar em castelos de sonho. Considero-me uma positiva realista, que tem a «simples» reação de seguir em frente sem paralisar e sem achar que «só me acontece a mim», não imortalizando as dores nem esperando que alguém venha resolver (ou ajudar a resolver) os meus problemas.
Acho que é o meu positivismo que faz com que veja sempre o melhor de cada pessoa e que, quando as de silusões e os episódios negros acabam por acontecer, volte a acreditar na sua beleza. Porque o ser humano, tal como a vida, merece sempre uma segunda oportunidade e tem sempre um lado colorido e doce a valorizar.
Hoje acredito que sou positiva e sei, com toda a certeza, que esta minha forma de olhar a vida tem sido a corda que me tira do fundo do poço, a boia que me traz de volta à margem, o ar quente que me permite voar no balão dos sonhos e das ambições. Tem sido a luz que me tira do zero sempre que dele me aproximo ou nele tombo ou caio.
Se tornar consciente esta minha característica, até consigo verbalizar o que há de positivo em cada situação e, ao fazê-lo, acredito mais e faço acreditar também.
Dizem que sou positiva e eu acho que têm razão.

Comentários

Booking.com