IO APPOLLONI E OS POEMAS DA SUA VIDA

Ontem estava uma noite agradável, apesar de ventosa.
Chegámos ao Auditório da Biblioteca Municipal do Pinhal Novo mesmo em cima da hora, já com receio de não haver lugares para o espetáculo de poesia com Io Appolloni. Infelizmente, a sala ainda tinha muitas vagas... (Um espetáculo assim e gratuito? Não entendo...)
Conseguimos um lugar na segunda fila. E ainda bem!

Muitos foram os poemas e diversificados os seus poetas:  Ezio Valecchi, Jorge de Sena, Trilussa, António Gedeão, Inês Pedrosa, Eugénio de Andrade, Fernando Pessoas (nos heterónimos de Álvaro Campos e Ricardo Reis), Alda Merini, entre outros.

Io Appolloni conquistou-me verdadeiramente... Ela encheu o palco sozinha com os seus poemas, uns em português, outros em italiano, a sua língua natal. Ela declamou, interpretou, dramatizou, cantou e riu com todos nós. Ela viveu as palavras dos poetas como se viessem do coração e brotassem de todo o seu corpo.
Gostei muito. Emocionei-me, surpreendi-me e diverti-me.
Io Appolloni tem muito valor e merecia mesmo uma sala cheia!

Tenho de dar os meus sinceros parabéns à Câmara Municipal de Palmela que, para além de apostar bastante na Cultura, apoiando e desenvolvendo diversas atividades no concelho, ainda consegue sempre marcar presença ativa e próxima dos seus munícipes.






Dos poemas escolhidos por Io Appolloni, eu e a Matilde escolhemos os nossos preferidos, os quais quero partilhar com quem está por aí, porque são realmente muito bons  e tocam-nos profundamente.

"Poema das Árvores" - António Gedeão

As árvores crescem sós. E a sós florescem.



Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.

"Sexo Oral" - Inês Pedrosa

Primeiro a tua língua molha o meu coração, num vagar de fera.
Estendo aurícula e ventrículos sobre a mesa, entre os copos que desaparecem.
Não há mais ninguém no bar cheio de gente.
Abres-me agora os pulmões, um para cada lado, e sopras. Respiras-me.
O laser das tuas palavras rasga-me o lobo frontal do cérebro.
A tua boca abre-se e fecha-se, fecha-se e abre-se, avançando por dentro da minha cabeça.
As minhas cidades ruem como rios, correndo para o fundo dos teus olhos.
O tempo estilhaça-se no fogo preso das nossas retinas.
O empregado do bar retira da mesa o nosso passado e arruma-o na vitrina,ao lado dos exércitos de chumbo.
Entramos um no outro,abrindo e fechando as pernas das palavras, estremecendo no suor dos olhos abraçados,fazendo sexo com a lava incandescente dessa revolução imprevista
a que damos o nome de amor.

Comentários

  1. Gostava de participar em cerimónias do tipo é pena ter pouca divulgação
    Deve ter sido muito lindo assistir.

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  2. Gostava de participar em cerimónias do tipo é pena ter pouca divulgação
    Deve ter sido muito lindo assistir.

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    Respostas
    1. Olá João.
      Foi muito bom.
      Eu costumo ver estas atividades no catavento e também partilho muito.
      Um abraço

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