A SOLIDÃO

Há quem pense que a solidão ataca principalmente quem está sozinho, quem vive sozinho ou quem fica sozinho... Realmente, solidão é uma palavra da mesma família de só, sozinho ou solitário... talvez daí venha a ilusão e a imagem de alguém completamente isolado num local qualquer, num espaço vazio ou num canto. Ou quiçá esta seja a minha imagem de solidão e não a mais vulgar ou principal para as outras pessoas. Talvez preconceito meu, estigma ou teorias mal encaixadas.

Na verdade, eu sei que não é preciso não ter ninguém à volta para sentir uma profunda solidão.
Na verdade, eu sei que, muitas vezes, até as pessoas (ditas) certas podem estar mesmo ao nosso lado e a solidão atacar tão discreta e profundamente que nem damos por ela antes de se instalar confortavelmente, ocupando um lugar especial de nós mesmos: a alma.

Eu sei do que falo... há vários anos que vivo numa grande solidão.
Provavelmente "escandalizarei" muita gente com esta frase, mas é sentida e tudo o que vem do coração não merece crítica ou menosprezo, porque é autêntico e humanamente poderoso.
Não me falta ninguém. Tenho dois filhos maravilhosos, que me adoram e que amo profundamente, que são o meu orgulho e, definitivamente, o que de melhor fiz e farei na vida. Tenho uns pais que amo e que me amam incondicionalmente, apesar das nossas diferenças. Tenho dois irmãos que são também dois grandes amigos e que têm sido uns tios fantásticos para os meus filhos. Tenho três cunhados que são como irmãos para mim. Tenho quatro sobrinhos lindos, que adoro e que fazem de mim uma tia babada. Tenho tido um (bom) homem bom ao meu lado, que se tornou um pai fantástico e que, ao seu jeito, me tem amado muito. Tenho poucos amigos, mas dos bons e verdadeiros... Dou-me bem com (quase) toda a gente. Tenho boas relações sociais e cordeais, boas relações profissionais... tenho conseguido sempre uma ótima relação com os meus alunos e com os seus pais.
Mas sinto-me (muitas e muitas vezes) infinitamente só.

A fase não é a melhor para analisar a situação, eu sei. Mas sinto. E dói. Dói muito lá no fundo, numa alma que às vezes penso nem possuir e noutras revela-se do tamanho do corpo... e visto o 42!
Sinto como se não existisse ninguém... sinto toda a gente e gosto de sentir, mas a alma fica sozinha, isolada e triste, muitas vezes nem conseguindo contagiar-se pelos gritos e gargalhadas dos miúdos, nem com as vozes e palavras (escritas ou faladas) daqueles que sei que me amam, nem tão pouco dos outros que falam por aí à toa ou com toda a razão.
É uma solidão que ataca e que permanece, que me absorve e quase enlouquece.
É que isto de estar rodeada e sentir a alma isolada não é fácil de aceitar, nem tão pouco de entender... e como resolver algo que se desconhece o porquê e não se encontra a ponta solta onde pegar e puxar para desenrolar?

Nesta fase, que não é a melhor, em que sinto o vazio preenchendo o espaço do tudo e do nada, acabei pensando que iria passar com as decisões, resoluções e alterações que vão surgindo, das quais não me envergonho nem arrependo. Mas não parece ser assim... Basta um pensamento mais profundo sobre muitos dos últimos anos da minha vida, olhando apenas para dentro e abstendo-me das maravilhas que por fora me surgiram e deram alegria, para descobrir que assim me sinto desde há muito. E há escritos que o comprovam e atestam, mesmo não sendo necessários ou relevantes.
É uma solidão interior que, desconfio, se alimente de uma autoestima muito mal tratada e descuidada, de uma imagem que tenho e, pelo que dizem, não é real, de muito tempo dando tudo de mim e nada pedindo, de uma espera que levou ao desespero e ao desencontro.
É uma solidão que quero entender para depois excluir (pelo menos quase) definitivamente da minha vida. Não quero voltar a sentir necessidade de a registar, como se colocá-la no papel ou no teclado fosse aliviar e retirá-la cá do fundo... Acaba por ajudar, mas não resolve...
Mas eu vou ter de resolvê-la ou reduzi-la a momentos, a instantes...

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