SAUDADES DO MEU AVÔ

No Dia Internacional do Idoso, a minha filhota Matilde, que está no 4.ºano, teve como tarefa escrever sobre um idoso que conhecesse e que fosse importante para ela. Infelizmente, os meus filhos não têm muita proximidade com ninguém que considerem idoso... (E eu e os meu marido já não temos avós e os nossos pais têm idades entre os 53 e os 66 anos.)

Por isso, a minha princesa escolheu escrever sobre o meu avô materno, que foi o único bisavô que ela conheceu e o único idoso com quem conviveu.

Para fazer o trabalho, tivemos de conversar sobre ele e o assunto da "morte" foi inevitavelmente falado. Tentei que falássemos mais da sua vida, das coisas que fazia, da sua forma de ser e de estar. Fez-me muits perguntas, ligou para a avó para fazer outras... Chorou com saudades e eu chorei também. Não foi um trabalho fácil, mas valeu a pena... Parece que estávamos a precisar de vê-lo, de conversar sobre ele e de comemorar a sua vida.

E as saudades apertam tanto neste momento...
Mas é tão bom saber que foi um GRANDE homem e que VIVEU a vida com muita garra...



O meu bisavô

"Os meus avós ainda não são idosos, por isso vou falar-vos sobre o meu bisavô, o único que conheci.
O pai da minha avó materna, José Deodoro dos Santos Pitaça, nasceu a 1 de junho de 1926, em Setúbal, onde viveu quase toda a sua vida.
Nasceu numa família muito pobre e tinha muitos irmãos, por isso foi criado pela sua madrinha. Como ela tinha mais possibilidades, o meu avô foi estudar. Era o único dos irmãos que tinha andado na escola e que sabia ler e escrever.
Começou a trabalhar na lota com 14 anos, a descarregar o peixe dos barcos de pesca no Porto de Setúbal. Aos 30 tornou-se estivador, que foi a sua profissão até se reformar. Como sempre trabalhou junto ao mar, tinha a pele muito morena.
O meu avô foi à tropa em Setúbal, no quartel do 11. Era 1º cabo clarim, quer dizer que, todas as manhãs tocava corneta para acordar os outros soldados.
Era um homem muito ativo, revolucionário e solidário. Ajudava muita gente, pertenceu a associações, sindicatos, clubes desportivos e até foi guarda-redes de um clube de futebol.
Aos 65 anos teve cancro nas cordas vocais e foi operado para o tirar. Ficou sem falar para o resto da vida.
Como ele passava as tardes na casa da minha avó via-o muitas vezes. Era uma pessoa séria mas gostava muito de dar presentes. Sempre que o víamos ele dava-nos um chocolate.
Vai fazer 5 anos que ele morreu, mas se estivesse vivo teria 88 anos.
Tenho saudades do meu avô e gostava que ele ainda estivesse vivo."

Matilde Vinagre
02-10-2014


Comentários

  1. Linda homenagem!
    Bjs

    www.trapinhartes.blogspot.com

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  2. Também chorei a ler o texto da Matilde. Tenho saudades dele e da sua força. Beijinhos, vô. Beijinho, Matilde.

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