JOVENS MANTÊM PALMELA VIVA

Não nasci em Palmela, mas fui para lá morar com 3 anos.
Vivi lá durante 20 anos com os meus pais e irmãos e mais 2 com o meu marido.
Contudo, nunca me senti de Palmela. Aliás, sentia mesmo que não fazia parte das gentes da terra, que era sempre migrante e que estava de passagem. Nem sei bem porquê... Não fiz grandes amizades, nem criei laços muito fortes. Tenho alguns amigos e muitos conhecidos. Acho que a maioria mal me conhece, sem ser de vista.

Fui frequentar o 8.ºano para uma secundária em Setúbal e lá fiquei até acabar a Licenciatura. Perdi o contacto com as gentes da vila, principalmente com os da minha idade, apesar de durante anos ter lá frequentado a Igreja e até de ter sido lá o meu primeiro ano de trabalho como professora.
Os meus pais sempre lá moraram e, por isso, Palmela foi sempre a minha vila e o seu castelo é, para mim, o mais lindo do país.
No entanto, esta sensação de "visitante", de morador "emprestado", sempre esteve presente e impediu que estivesse totalmente confortável na vila que amo. Acho que me sentia uma filha adotiva assumida e, pior, achava que toda a gente, principalmente quem estava pelas minhas idades, também o achava.
Hoje, adulta e noutra fase de vida e de relação comigo mesma, acho que fiquei sempre à defesa, de parte, o que (talvez) tenha passado a imagem de que me achava "superior", apesar da minha sincera e intrínseca simplicidade de pensamento e de ações.

Há 10 anos que não moro em Palmela, mas numa aldeia vizinha com algumas rivalidades. Aqui senti-me mais protegida deste meu "complexo de inferioridade", apesar de cá não ter nenhumas raízes... E fui ficando. Trabalhar em Palmela e morar aqui, no início, foi excelente. Adorei esses dois anos. Estava lá durante o dia, familiarizada com as pessoas e os costumes, vinha para casa de tarde, com os filhotes e "começava de novo" por aqui. Fiz amizades. Nos dois lados. Cimentei outras, daqui e de lá. Cresci, tornei-me mulher, mãe e professora e aprendi a respeitar estas minhas faces.

Hoje volto a Palmela e vejo-a muito mais viva, muito mais ativa do que estava há uns anos atrás.
Pergunto-me se fui eu quem esteve longe demais, apesar de fisicamente perto, ou se há mesmo qualquer coisa a mudar por lá. Quero acreditar que é apenas a segunda razão, mas talvez sejam ambas.
A verdade é que atualmente, apesar de ser "adotiva", fico alegre porque os meus irmãos estão a colocar Palmela muito colorida e viva. Os irmãos com os quais (mais ou menos) convivi até ao 7.ºano estão a dar a mão à sua localidade e desenvolvê-la, pegando nas ajudas das entidades e dando alegria a uma vila que poderia ser já quase só de "velhos". E isso deixa-me orgulhosa. Muito orgulhosa dos meus irmãos... uns mais novos, outros mais velhos, mas muitos deles pegando em sociedades recreativas, cafés, associações, lojas.... e levando-as a viver intensamente, pegando nos seus dons, nos seus talentos, na sua própria luz, para fazer brilhar uma vila que já pouco passa despercebida no distrito, para não dizer mais.

E tenho vontade, muita vontade, de descobrir mais irmãos destes, de ir a mais eventos que por lá ocorrem, de frequentar os locais de lazer, de apoiar iniciativas, de divulgar o que em Palmela se faz, de bater palmas de lágrima no olho. Quero conhecer quem são os outros palmelenses (ou palmelões) que pegaram nos velhos espaços e lhes deram atividades novas, fazendo da vila o seu local de vida e trabalho. Fico até com vontade de para lá voltar...


Não posso deixar de referir três desses irmãos que (re)descobri e a quem faço uma vénia pelo que dão de si pela vila que amam, pela (acho que posso dizer) "nossa" mãe, que dão cor e música a paredes antigas. Muitos outros estou a descobrir, mas a estes não vou deixar passar sem bater palmas.

As minhas palmas para:
- Maria João Camolas, presidente da Sociedade Filarmónica Humanitária.
Mulher de garra, mãe de família e filha da terra, lutadora e ativa, pessoa de bem e de iniciativa. Tem feito muito pela música em Palmela e preside a Humanitária como se gerisse uma família de gente talentosa, promovendo diversas atividades culturais e recreativas durante todo o ano, abertas a toda a população e que fazem dos palmelenses pessoas mais cultas e divertidas. Também rentabiliza e valoriza os dons de outros irmãos que lá aprendem e ensinam Música no Conservatório Regional, local de aprendizagem muito conceituado no país.

- João Manaites, dono do Manaites Café.
Homem de bem, amigo da diversão, bem-disposto e honesto, que desde sempre me lembro de ver com vontade de pôr Palmela a mexer. O seu espaço não é só um café, é um restaurante com comidinha boa e caseira, é bar, é ponto de partida e de chegada para amigos de todas as idades, é local de boa música nas noites de verão, é descontração e espontaneidade. Nas suas paredes, cheias de fotos de "Palmela antiga", vibram boas energias e vontade de não baixar os braços...

- Miguel Santiago, dono do Café Santiago.
Pai de família, pessoa de princípios, homem de caráter e de personalidade. Gere o café que sempre existiu (desde que me lembro de ser gente, pelo menos) e que ficou na família, lá recebendo gentes da minha e de outras idades. Não maioritariamente os filhos ingratos, como às vezes acho que sou, mas também estes, todos os que quiserem aparecer e dar umas boas gargalhadas. Não o sei por lá ir, mas sei-o. Sei e vejo toda a dinâmica que é dada a este espaço e apetece-me lá ir e lá ficar. As suas iniciativas vão aparecendo e o seu nome surge associado a atitudes de bem-estar para com as suas gentes. Através dele, houve quem se sentisse mais acompanhado mesmo em locais inesperados.


Estes três irmãos são exemplo para todos e têm feito com que ganhe mais vontade de ir entrando de novo em Palmela, de ir ajudando nessa cor que por lá vai pairando, pelo menos estando mais presente e divulgando o que por lá se faz. Quero recuperar alguns tempos ou, se pensar em não olhar para trás, seguir em frente sem aquela sensação de adoção, mas já de olhar direto e sem medos, nem complexos. Porque Palmela merece que os jovens lhe deem cor e vida, porque Palmela é linda e tem muito para dar... e é a nossa terra!

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