PROFESSORA TRISTE

Há uns tempos que por aqui não passo...
Esta semana foi de loucos, quer pessoal, quer profissionalmente: 3 reuniões fora de horário de trabalho, uma professora doente (no filho com menos facilidade de adaptação), consulta de psiquiatria, um dia de recaída, uma zanga com a melhor amiga, pouco tempo para cozinhar ou outro afazeres em casa, problemas no condomínio (de que sou este ano administradora), mais uma desmarcação de atividade de fim-de-semana, um pé magoado... bem, estas são as coisas de que me lembro.
Sei que há muita gente bem pior do que eu. Penso nisto, mas não me consola, pois queria que toda a gente estivesse bem.
Felizmente todas as coisas se resolveram e há SAÚDE e AMOR que é o mais importante, por isso, confesso-me CURADA.

No entanto, apesar de já me sentir uma mulher de sorte, sinto-me uma professora triste.
À parte de todas as queixas que os meus colegas fazem (e com as quais concordo e poderei "falar" um dia), o que mais me entristece são as situações de vida dos meus alunos às quais não posso dar resposta.

Este é o segundo ano que estou com os meus "Reguilas Toureiros da Moita". Este ano são 21 crianças, uma delas com Necessidades Educativas Especiais, frequentam o 2.ºano e são miúdos muito queridos. Simples, humanos, terra a terra, alegres, faladores, irrequietos, afetuosos e curiosos, é como os defino. Gosto deles todos, cada um de forma especial e única. Sinto-me ligada a estas crianças de forma especial, até porque passamos juntos a maior parte do tempo do dia de parte a parte. São um pouco "meus" e é comum falar aos pais dizendo "o nosso Salvador", "o nosso Pedro", "a nossa Inês"... são dos pais, mas um pouquinho meus e sofro quando sofrem, zango-me quando merecem (ou tento fazê-lo só nessas alturas), abraço-os quando precisam ou nos apetece, dou beijinho no dói-dói para passar ou digo "não" quando tem de ser... tal como faço com os meus filhos.

De há uns meses a esta parte, as coisas têm piorado na vida dos "meus meninos" da escola e estou cada vez mais preocupada. Claro que isso se reflete na aprendizagem, mas na "nossa sala" vivemos outro mundo e tento que o espaço seja a sua segunda casa e nela se sintam bem, felizes e em paz. O país está a mudar e as crianças precisam de esperança. Eu estou otimista e tento mostrar-lhes que vale a pena e que o mundo está nas mãos deles, mas não é fácil e eu estou triste. Estou triste porque neste tempo já testemunhei a emigração de 3 pais, o divórcio de 3 casais, o desemprego de 4, a descoberta de problemas psicológicos em 3 alunos, uma depressão grave numa mãe... isto deixa-me triste... isto corta a esperança num mundo melhor. Quero ajudar, mas mais não consigo fazer e isto deixa-me triste e faz-me sentir inútil.

Por isso, não posso negar tornar a nossa sala, os nossos momentos em conjunto, em algo mágico e alegre. Não posso limitar-me a transmitir conhecimentos, sem preocupar-me com o envolvimento dos miúdos, com as competências sociais, com a motivação, com o bem-estar, com o companheirismo... não posso, não quero... mas quase me obrigam como tanta burocracia e tanto onde "aplicar" o meu tempo para além da preparação de aulas. Fico triste por ter limites, mas não desisto de tentar. Vê-los sorrir na sala é algo maravilhoso quando as suas vidas estão a dar-lhe motivos para chorar.

Comentários

  1. Minha amiga:
    Todos os dias visito este teu cantinho. Faz-me sentir mais perto de ti. Quanto a este post e ao que me diz respeito o nosso "desentendimento" está resolvido (afinal nem foi diretamente contigo). Esqueceste-te de contar que no final da semana ainda foste à festa de anos da tua melhor amiga. Quanto à professora doente neste momento está a tentar recuperar-se e para o ano espera poder estar junto dos seus meninos e recuperar este tempo. E o nosso Simão está um homenzinho e se calhar esta experiência até o vai ajudar a crescer ainda mais.
    E não te esqueças de que te adoro muito e que preciso sempre desse teu otimismo.
    Obrigada por tudo

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  2. Olá Susana!
    Não me esqueci de contar nada. Apenas contei o que me estava a acontecer de menos bom e não referi as soluções. Claro que tive momentos bons. Graças a Deus, tenho sempre... Não precisas defender-te quando menciono coisas relativas a ti. Adoro-te, mas este canto é um desabafo e não é para apontar dedos a ninguém e nem era esse o intuito desta mensagem. Até porque quase toda ela se refere a mim enquanto professora.
    Beijocas

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  3. Mana, percebo e compartilho. Os teus alunos são uma extensão de ti e tenho a certeza que os compensas nestes momentos menos bons. Para eles deve ser bom ir para a escola e voltam para casa mais felizes. Com certeza transmitirão alguma dessa alegria às suas famílias. Parabéns pela tua humanidade! Beijos

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